segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Final de Ano: O que desejar para o próximo ano? Consumo de substâncias psicoativas, a saída de uma repetição e a invenção de um novo. Por Claudia Fabiana de Jesus - clafaje@hotmail.com
Datas do final do ano representam muitas significações e variam a partir da subjetividade, do contexto histórico, questões culturais e religiosas, entre tantas outras. Contudo, ressalta que é uma data propícia a refletir sobre as metas, sobre o ano vivido, sobre renascimento, sobre a representação da vida, sobre as expectativas futuras, enfim, repensar sobre si mesmo. Estas questões aparentam ser algo tão comum a se pensar, mas se percebe que as pessoas focam mais em questões concretas, objetivas, voltadas mais para aspectos financeiros e em menor valência fatores mais subjetivas e emocionais. Quando se pergunta a uma pessoa o que ela pensa acerca do final do ano e o que se busca no próximo ano é mais comum trazer aspectos quantitativos e materiais. Ressalta na importância deste momento do fechamento do ano as pessoas pudessem repensar acerca de si mesmo, de como fizeram as escolhas, do que carregaram na vida e influenciaram de forma negativa, sobre as próprias metas e anseios, acerca dos pontos positivos e diante de tantos questionamentos refletir de como viveu a vida neste ano de 2013. E a partir disto se perguntar como se sentiu em relação a si mesmo. Estas questões, também, precisam ser refletidas e discutidas nas pessoas que consomem substâncias psicoativas as quais, muitas vezes, só ficam focadas em tratamento, na abstinência total, nos medos acerca da representação do final do ano e mesmo em aspectos positivos continuam repetindo com o receio de pensar e de viver algo novo que seja construtivo. Enfim, muitas vezes nem se acredita que se pode viver a época do final de ano de forma satisfatória e com possibilidades de inventar um novo ano a partir de uma nova versão de si mesmo. Reforço que não há como pensar o campo do consumo de substâncias psicoativas sem refletir sobre a própria vida do sujeito. E nesta época de fechamento do ano isto surge de forma mais marcante pois é um momento de balanço pessoal. Diante das questões ligadas ao consumo de drogas/ álcool se faz importante não deixar de refletir sobre a vida singular e suas vicissitudes pois o medo de pensar pode fazer com que o sujeito se assujeite e não se implique nas escolhas cotidianas. Por mais que seja complexa se reforça o convite, a partir deste momento de fechamento anual, de o que se deseja para o próximo ano a partir do que já se vivenciou, a possibilidade de saída de um modo repetitivo de vida para a invenção em um modo singular. Isto é possível, porém, o sujeito se responsabilizará em acreditar nisto ou não. Que novos modos de satisfação na vida sejam vivenciados e que o desejo “desejado” possa ser bem vindo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Dia da Tolerancia

Dia Internacional para a Tolerância e a reflexão no campo da drogadependência Por Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga - clafaje@hotmail.com
O Dia Internacional para a Tolerância foi instituído pela ONU como sendo o dia 16 de Novembro de cada ano, em reconhecimento à Declaração de Paris, assinada no dia 12 deste mês, em1995, tendo 185 Estados como signatários. Foi instituído pela Resolução 51/95 da UNESCO. A Declaração da ONU fez parte do evento sobre o esforço internacional do Ano das Nações Unidas para a Tolerância. Nela os estados participantes reafirmaram a fé nos Direitos Humanos fundamentais e ainda na dignidade e valor da pessoa humana, além de poupar sucessivas gerações das guerras por questões culturais, para tanto devendo ser incentivada a prática da tolerância, a convivência pacífica entre os povos vizinhos. Remetia, ainda, à Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma que todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, todos têm direito à liberdade de opinião e expressão e a educação deve promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações, grupos raciais e religiosos. Verifica-se que isto não é uma realidade que vemos. Existe muito Intolerância em diversos campos e chega a um ponto de normatizá-lo e, muitas vezes, pode nem ser percebido como intolerância, chegando ao ponto de se acostumar. Percebe-se que as pessoas estão intolerantes e não sabem lidar com as diferenças e isto pode gerar muitos conflitos desde o micro até o macro. Enfim, a intolerância ocorre desde a família, nas instituições de forma geral, no trânsito, nas relações entre as pessoas e entre as nações. No campo da drogadependência há uma intolerância em diferentes campos, mas focarei a respeito da intolerância a pessoa que consome drogas/ álcool gerando preconceitos, desrespeito e estigmas que se tornam maléfico. Na intolerância não se busca compreender e, sim já há uma verdade pronta e se o sujeito não se adequar a ela, a mesma está fora e assim, se intolera quem foge de um padrão instituído, socialmente, numa determinada momento. As pessoas que consomem drogas, ainda mais as ilícitas, são intoleráveis pela sociedade e se percebe no cotidiano ações repletas de julgamentos moralistas, contudo, há muita hipocrisia e interesses nesta área. Há de se perguntar: No que sou intolerante e o que isto vem revelar? O que na intolerância tem haver com voce mesmo? Quando se remete a questão das drogas não significa tolerar as drogas, ou aceitar uma situação atual, até porque esta questão é muito complexa e não fixaremos em respostas simplistas. Mas aqui se está falando do ser humano e não o foco em drogas/ álcool e assim sendo, que é necessário repensar a questão da Intolerância e suas vicissitudes. È fundamental repensar os direitos humanos, a dignidade, a ética, a liberdade de escolha e estes pontos tem haver com tolerância. Trago uma reflexão no campo da sociedade: Como está a sociedade contemporânea em relação a respeito ao próximo, a singularidade e a liberdade de ideias e de expressão, as diferenças,a dignidade humana,a ética, o direitos entre outras? E o que estas questões, remetendo a pouca presença das mesmas ou ate mesmo ausência, tem haver com as questões da drogas? È necessário sair da Intolerância para a tolerância para que se possa pensar o campo da drogadependência, pois a intolerância faz com que se fixe em ideias engessadas e não se vai além. A intolerância não abre espaço para reflexão e discussão, pois não tolera. A intolerância não tolera. Enfim, o campo da drogadependência precisa sim de muitas reflexões e assim, se faz necessário repensar conceitos como tolerância e intolerância. No campo da drogadependência se faz primordial refletir sobre os direitos humanos e isto se relaciona com a temática tolerância.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Trabalhos apresentados no congresso da ABRAMD, 2013

Trabalhos apresentados no IV Congresso Internacional da ABRAMD em Salvador DROGAS E POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO, SAÚDE COLETIVA E DIREITOS HUMANOS ATENDIMENTO INDIVIDUAL: PSICANÁLISE E REDUÇÃO DE DANOS Claudia Fabiana de Jesus Mestre em Psicologia da Saúde Introdução: No centro de atenção psicossocial álcool ou outras drogas se predomina os grupos terapêuticos, porém, há o atendimento psicológico individual. Objetivo: O objetivo deste trabalho foi descrever o atendimento psicológico de um idoso e discutir as mudanças subjetivas. Metodologia: O tempo da sessão varia conforme a demanda e a partir do manejo do profissional. O atendimento era semanalmente e passou a ser quinzenal. A abordagem utilizada se refere a psicanálise e a redução de danos e o trabalho se refere a estudo de caso, de caráter exploratório. Resultados: O paciente mudou sua posição subjetiva, falando de si, sem estar relacionado a abstinência ou não do álcool. O paciente traz questões ligadas a seus medos, a solidão, a espiritualidade e questões ligadas à morte. Ele traz assuntos ligados ao relacionamento com a esposa e com os filhos, bem como, ao campo profissional e a aposentadoria. O paciente traz reflexões acerca de ser idoso, do auto-cuidado e sobre a saúde. Ele não traz mais indiferença em sua fala e não fica fixado às queixas e dá foco no presente. Ele denota mais segurança em assumir os seus próprios desejos. O processo de análise se dá pela via da subjetividade e da responsabilidade de suas escolhas. Considerações finais: Pontua-se que tanto a psicanálise como a redução de danos implica o paciente em seu discurso, em seus atos e na direção do tratamento, não como um dever, mas como uma escolha. Salienta-se a construção de uma demanda analítica do próprio sujeito. Evidência a importância do manejo clínico, mesmo na prática de saúde pública, priorizar a subjetividade e a singularidade, baseada na ética do desejo do paciente. A CONTRIBUIÇÃO DA LEITURA NO TRATAMENTO EM DEPENDÊNCIA QUÍMICA Claudia Fabiana de Jesus Mestre em Psicologia da Saúde Introdução
: Roda de leitura é um grupo reflexivo em que o paciente tem contato com a leitura, recurso terapêutico para o tratamento e é estimulado neste sentido. Ocorre uma vez por semana, com duração de uma hora e meia, com duas profissionais e o número de participantes variou entre 8 a 18 participantes. Objetivo: Este trabalho tem como intuito descrever sobre o grupo, o papel dele no tratamento em dependência química e avaliar o grupo a partir dos próprios participantes. Metodologia: A investigação do grupo foi realizada por uma abordagem qualitativa e quantitativa com caráter exploratório. O material se refere a um questionário elaborado com o intuito dos pacientes realizarem a avaliação do grupo no que se refere ao hábito de fazer leituras, a ênfase do grupo e o que ele contribui para o tratamento. Resultados: Mesmo que o paciente não tenha o hábito de ler ele considera que a leitura melhora o raciocínio, ajuda a pensar e a falar melhor, é instrutivo e melhora os conhecimentos gerais. O grupo enfatiza reflexão, leitura, melhorias no relacionamento, interpretação, análise crítica, mudanças, novas ideias, diálogo, recurso terapêutico, entretenimento, compartilhar emoções, além de maior contato com os textos, ampliação de visão, saúde, otimismo, reorganização, consciência de si e informações da atualidade. Considerações Finais: A palavra e a leitura é um instrumento de reflexão de si, da relação interpessoal e de suas vivências e assim, o grupo roda de leitura atinge seus objetivos e contribui no tratamento no campo da drogadependência. Há a relação entre leitura e saúde, na qual se toma o ato de ler como capaz de gerar saúde e mudanças subjetivas. Salienta-se que a leitura é uma forma de promoção da saúde.

Congresso Internacional da ABRAMD

Claudia Fabiana de Jesus, 2013 IV Congresso Internacional da ABRAMD em Salvador DROGAS E POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO, SAÚDE COLETIVA E DIREITOS HUMANOS No dia 30 de outubro realizei curso no congresso Psicanálise e Atenção Psicossocial e traz a conceitos de saúde pública já instituída e ressalta a subjetividade e o papel do profissional. Nesta mesma data ocorreu a abertura do congresso com Dr. Elisaldo Carlini no qual se discutiu sobre a internação compulsória para dependentes do crack: solução ou engano? O professor traz um histórico de leis antigas no que tange a internação e que se reproduz nos tempos atuais. Traz a relação da polícia com ações de higienização, além de trazer dados que não há epidemia do crack, traz dados que há discursos científicos com outros interesses e a ABRAMD tem o papel de promover o debate mais democrático. No dia 31 de outubro se discutiu sobre leis e direitos dos usuários e saúde coletiva e teve apresentação do vice-ministro de educação e da cultura do Uruguai expondo o processo de regulamentação da maconha no país. Outra conferencia foi a redução da vulnerabilidade social do usuário de drogas e humanização da atenção no SUS. Discutiu por meio de conferencias acerca da ciência e política da cannabis e a clínica das toxicomanias, bem como, o papel da mídia, tabu, preconceito e crítica cultural e o uso problemático do álcool: contradições e desafios. Nesta data realizei a apresentação oral do trabalho “A contribuição da leitura no tratamento em dependência química” e teve vários participantes interessados na exposição e o pôster “ O atendimento individual no CAPSad: Psicanálise e redução de danos”. No dia 01 de novembro se discutiu a respeito da redução de danos no contexto atual em mesa redonda no qual se expos diferentes experiências e teve a conferencia internacional de drogas, políticas públicas e a experiência de Portugal. Outro tema discutido foi os direitos dos usuários de drogas e o estado laico, bem como, a discussão acerca do crack, a qual há comprovação científica que isto não é verídico. Outra mesa redonda se discutiu as políticas públicas, intervenções comunitárias e as experiências dos palestrantes neste sentido e se discutiu acerca do uso recreativo e medicinal da maconha com os impasses e reflexão a respeito de novas regulamentações. Em 02 de novembro o congresso por meio de seus conferencistas trouxeram discussões acerca de educação, uso de drogas e políticas de prevenção. No encerramento do evento de discutiu sobre políticas públicas sobre drogas no Brasil e no mundo e se questiona para qual direção estamos indo? Este debate teve representante renomeados e se pontuou a importância de ações para romper o antiproibicionismo em relação as drogas, os direitos humanos dos usuários de substâncias psicoativas e a importância de se rever as políticas públicas no Brasil. A partir do congresso se realizou a monção para a SENAD com o intuito de rever o cenário atual de políticas públicas sobre drogas no país. O congresso foi extremamente importante no campo nacional no que se refere a análise crítica de políticas sobre drogas e os direitos humanos, por meio da ciência e da diversidade e pela contribuição profissional e pessoal no que tange a esta associação pelo compromisso ético.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Dia 10 de Outubro – Dia Mundial da Saúde Mental A importância de refletir sobre a própria saúde da saúde mental. Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga/ Mestre em Psicologia da Saúde – clafaje@hotmail.com É válido ressaltar a necessidade em falar da saúde no Brasil, contudo, se prioriza neste escrito a saúde mental, a qual ainda é tabu e com ideias pré-concebidas. O campo da dependência química, na atualidade, traz forçosamente, ter que discutir acerca da saúde mental pois refletir em saúde mental remete, também, em pensar na questão do álcool/ drogas. A organização mundial de saúde afirma que há diversas definições de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. A saúde mental é estar de bem consigo e com os outros, saber lidar com as emoções, reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário. Há alguns critérios identificados aspectos da saúde mental como atitudes positivas em relação a si próprio, crescimento, desenvolvimento e auto-realização, integração e resposta emocional, autonomia e autodeterminação, percepção apurada da realidade e domínio ambiental e competência social. A saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de saúde mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais. Dia 10 de Outubro se comemora o dia mundial de saúde mental. Data esta importante pois representa evoluções e conquistas na área, porém, é necessário ficar atento pois vivemos um período social com leis, emendas com retrocessos na área de saúde mental, especialmente, no campo da “ dependência química”. Sabe-se da importância, já instituída em outros países, em não focar somente em prevenção de doenças, a qual no Brasil ainda está muito carente mas, focar em ações promotoras de saúde. È necessário sair da patologização e se voltar para a saúde, estendendo a noção de saúde da área biológica/ física para áreas como educação, segurança, habitação, cultura, lazer, entre outras. Em meio a mudanças sociais, alterações no campo social, na área genética, econômica, política, cultural entre outras emerge novas doenças e patologias sociais as quais refletem na sociedade e vice-versa. È necessário novos questionamentos acerca de novos dilemas do ser humano e, sendo assim, é fundamental repensar a respeito da saúde mental. A sociedade precisa se repensar no que refere a própria formação do ser humano e não focar em doenças, patologias, em querer colocar a droga como a “ culpada” dos todos os males sociais. È necessário olhar para as diversas causas e, se pensar que muitos casos, a droga pode ser somente a consequência. A saúde mental precisa mais de saúde pois ela está doente! Que nesta data mundial da saúde mental se repense nos paradigmas atuais e nas concepções acerca da saúde x doença, certo x errado, normal x patológico e abstinência x não abstinência. A questão do consumo de drogas/ álcool e a saúde mental precisa de cuidados e de saúde.

domingo, 1 de setembro de 2013

Consumo de substâncias psicoativas: Da dependência a Independência

Consumo de substâncias psicoativas: Da Dependência a Independência Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga/ Mestre em Psicologia da Saúde – clafaje@hotmail.com Este mês se refere a uma data importante, 7 de setembro, dia da Independência do Brasil e, neste escrito se foca a questão da independência x dependência, relacionados ao consumo de substâncias psicoativas. A temática dependência e independência pode ter diversos aspectos a ser discutido e se discutirá a partir de um certo viés. A dependência se refere a sujeição, a subordinação e diz respeito ao indivíduo que não tem recursos próprios, de forma geral, e vive a expensas do outro. A independência é algo importante no desenvolvimento do ser humano e não tão simples a ser conquistado. O ser humano nasce e é o ser mais dependente da mãe, do outro, necessitando de seus cuidados. Um ser que depende do outro para sobreviver. A dependência se mantém na infância, na adolescência se questiona em alguns pontos desta temática mas, ainda predomina a dependência. No período da fase adulta se pontua a prioridade da independência. O ser humano se desenvolve, sai da dependência e se dirige para a independência, como um país que ganha sua autonomia e se torna independente do outro, podendo se autogerir. Há diferentes aspectos da dependência. Cita-se a dependência econômica/ financeira e a dependência emocional, as quais podem estar ligada uma a outra ou não, porém, foca-se neste escrito a dependência emocional x independência emocional. Muitas vezes, o adulto apresenta além da “ dependência química” a dependência emocional e este é um ponto fundamental a ser trabalhado. Há pessoas que ate conseguem buscar e manter a abstinência do álcool/ drogas, contudo, apresentam uma dependência emocional significativa. Uma pessoa que precisa da aceitação e aprovação do outro, da mãe, da esposa, de uma instituição, ou da sociedade, apresentando dificuldade em estar mais seguro em suas próprias escolhas, não assumindo riscos e, assim apresentando dificuldades em inventar o seu próprio futuro. O indivíduo independente é aquele que tem como referencia de sua vida ele mesmo, não que ele não precise dos outros, mas ele não depende. Percebe no desenvolvimento do ser humano e de nossa sociedade um estímulo a dependência, pois quando uma pessoa se assume, é independente aparenta ser “egoísta” e pode ter mais um cunho negativo. Também, se observa que atrás da dependência do outro, alguém que se responsabilize pelo outro, cuida do outro pode ter uma questão de controle frente a este outro. Quando alguém depende do outro pode ficar submisso ao outro e acaba não se responsabilizando por si mesmo e pelas escolhas. Há, também, as pessoas que apresentam dependência emocional e não desejam sair desta posição, alimentando a relação simbiótica com o outro, contudo, há um “preço alto a se pagar” ficando na posição da dependência. È necessário que a pessoa deseje sair de um processo de dependência para a independência e deve trabalhar em prol desta mudança subjetiva, tanto as pessoas que consomem uso de substâncias psicoativas, como aqueles que não apresentam esta questão. Para as pessoas que apresentam “ dependência química” se reforça a importância da busca em deixar esta relação com as drogas/ álcool e, concomitantemente, deixa a relação de dependência com o outro a sua volta, ou seja, se abster da dependência emocional. Correlacionando com o Dia da Independência da Nação se traz a reflexão acerca de sua independência pessoal. Como você lida na sua vida com a questão da dependência x independência? O que a dependência emocional acarreta e o que isto repercurte na vida? Como se desenvolve a independência emocional e quais os benefícios da mesma em sua existência? Você alimenta a dependência emocional nas relações interpessoais? Você quer ser alguém mais independente? A independência emocional está relacionada, entre outras questões, com a liberdade, porém, a liberdade requer assumir as próprias escolhas e a responsabilidade. Assim sendo, quando o indivíduo tem uma relação de independência a responsabilidade é algo que marca seu modo de ser naquele momento. È necessário fazer uma revolução pessoal em que se grita pela liberdade e pela independência. Ressalta-se que a maturidade emocional do ser humano tem haver com a evolução de um processo da dependência para independência. Salienta-se a importância do indivíduo sair da sujeição ao outro para a emancipação individual e para a autonomia.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A contribuição da Psicologia na relação do ser humano com as drogas/ álcool.

Por Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga / Mestre em Psicologia da Saúde clafaje@hotmail.com O mês de agosto se refere ao dia do Psicólogo, 27 de agosto, profissão esta que atua no auxílio da saúde do ser humano, na compreensão do indivíduo sobre o processo de auto-conhecimento e sobre suas escolhas. Assim sendo, a Psicologia é uma área multidisciplinar fundamental no campo do uso de substâncias psicoativas. O ser humano desde a antiguidade buscou o uso de substâncias psicoativas e em cada época, a relação do homem com as drogas se altera e se transforma. Na sociedade contemporânea o uso de álcool e drogas revela sobre a própria sociedade e suas ideologias e é interessante fazer uma leitura social acerca das drogas quando se atende as pessoas que consomem substâncias psicoativas, além da própria metodologia técnica de cada opção teórica do profissional. A Psicologia visa contribuir para que o indivíduo busque compreender a sua relação com as drogas/ álcool e a partir de suas escolhas atue de outra maneira no cotidiano e atue diferente frente a si mesmo e ao seu redor. Não há como falar de substâncias psicoativas sem falar do próprio ser humano e o foco é a subjetividade do indivíduo. Há alguns anos atrás a Psicologia e outras áreas, como a medicina, a enfermagem, o serviço social, entre outras, era escasso a discussão nesta área e os próprios cursos de formação não estavam atuantes neste sentido. Atualmente, se faz necessário maiores discussões neste campo no meio acadêmico pois se refere a uma responsabilidade social. A Psicologia é uma ciência que visa contribuir na melhoria de vida do ser humano e por isto é primordial sua contribuição nas discussões em dependência química, em ações de prevenção, tratamento, bem como, nas políticas públicas e no campo de pesquisa. Há quatorze/ quinze anos atrás, quando iniciei nesta área, era mais escasso psicólogos atendendo na área da drogadependência e , no presente momento, esta realidade já se modificou. Neste período se percebia mais o desconhecimento dos profissionais acerca da temática e hoje, se faz prioritário o conhecimento acerca do tema. Tinha até mesmo um certo preconceito para o psicólogo que atendia esta demanda e me perguntavam: “ Voce atende drogados? Eu respondia e respondo: Eu atendo pessoas.....” Que no campo do álcool e drogas a busca pelo profissional da Psicologia se faça presente pois há suas contribuições, contudo, escolha psicólogos com qualidade e com competência.

domingo, 14 de julho de 2013

O Consumo de drogas e a Responsabilidade.

O Consumo de drogas e a Responsabilidade. Por Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga - clafaje@hotmail.com De forma geral, o consumo de drogas pode ser discutido a partir de cunho acusativo e moralista. Um outro extremo, um cunho como vítima, algo que a pessoa tem que a domina, uma doença que ela tem, o que dependendo da interpretação a própria pessoa, acaba não se responsabilizando por isto, não se apropriando disto. O foco deste escrito se refere a responsabilidade diante de qualquer ação, pensamento e até mesmo dos sentimentos. A responsabilidade diante dos eventos da vida cotidiana, dos diagnósticos e isto não exclui na temática consumo de drogas. A responsabilidade é um tema atual e, até no campo da psicanálise do século vinte e um, está sendo discutida e revisada. A responsabilidade no ato de experimentar a substância psicoativa, na escolha de continuar fazendo o consumo, bem como, a responsabilidade em buscar a abstinência das drogas e a manutenção da mesma. Ou até mesmo a responsabilidade em não desejar mudar. Assim, é prioritário que no campo do consumo de drogas e álcool a responsabilidade seja algo trabalhado. A responsabilidade está ligada a pessoa arcar com o próprio comportamento ou com as ações de outrem e a obrigação a responder pelas próprias ações, e pressupõe que as mesmas se apoiam em razões ou motivos. Ser responsável é a obrigação de qualquer cidadão para a busca de uma vida saudável em sociedade. Observa-se, que na nossa sociedade, há escassez de uma educação baseada na ideia da responsabilidade e isto influencia em diversas áreas de conhecimento e repercute no campo das drogas. De forma bem geral, ressalta-se que a vida humana se fundamenta no princípio de autoria. O ser humano é o autor de seus atos e assumirá as consequências. Verifica-se que a responsabilidade individual não é algo visto de maneira marcante na sociedade contemporânea e se busca atalhos para tal. Pontua-se, que o ser humano é responsável, ate mesmo pelos os imprevistos, pelo acaso e pelas surpresas em sua própria vida. No cotidiano da vida humana é inerente a responsabilidade. È necessário que se retome sobre isto em diferentes áreas do conhecimento e campos de atuações, bem como, nas diversas instituições em prol do desenvolvimento do ser humano. Salienta-se que na área do consumo de drogas e álcool a responsabilidade é uma temática fundamental tanto em ações de prevenção, redução de danos, tratamento e de buscas por mudanças da subjetividade, bem como, da própria sociedade. Reflita: Qual é a responsabilidade nisto?

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Dia Internacional contra o uso de drogas

Dia Internacional contra o uso de drogas – dia 26 de junho Por Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga – clafaje@hotmail.com O tema da droga nunca foi tão debatido como atualmente e, se percebe o movimento de diversos campos, do senso comum, da religião, da ciência e há menos tempo, da política. Há diferentes interesses nesta área e por isto é necessário mais cautela e cuidados nas ideologias vigentes e presentes na sociedade atual. Como é uma temática que revela nossas fragilidades, incertezas, o fracasso da saúde pública, novos modos de sofrimento atual, revela outros desafios que a sociedade ainda não está querendo enxergar, revela carência na área da assistência social, planejamento familiar e desigualdades sociais, não podemos ficar no foco do problema da droga na própria substância em si. È preciso ir além e já se sabe disto há algum tempo, mas não se está avançando e sim, regredindo. No atual momento, verifica-se uma pressão em dar conta da situação das drogas, especificamente com o crack. No entanto, já se sabe que a política de guerra as drogas, vindo dos Estados Unidos, não atingiu os seus objetivos e muitos países estão olhando mais para esta realidade, tendo mais autonomia, buscando outros caminhos e outras propostas de atuação. Mas, mesmo assim continua a guerra contra as drogas, no sentido de uma ideologia de acabar com as mesmas. E assim, se questiona: Como, realmente, estamos caminhando neste campo? As ações estão acontecendo no acting out, com pouca reflexão crítica e com busca incessante para soluções. Retomemos até o nome escolhido para a data: Dia Internacional contra o uso de drogas. Dia 26 de junho poderia ser uma data intitulada Dia Internacional em Favor do ser humano, ressaltando os aspectos promotores da saúde do ser biopsicossocial e não focando na doença e nas patologias. È uma data que será comemorada, repensada pela sociedade e assim, que possamos refletir, realmente, de maneira mais madura, aberta a novos questionamentos e ter a coragem de construir novos caminhos e de parcerias que sejam possíveis. Nem tudo é possível e será que sabemos lidar com isto? Que esta data, 26 de junho, possa representar novas questões, novos dilemas e novos desafios. Que nesta data se possa ir além do já pré-estabelecido e ações padronizadas e generalizadas e se inventar novas possibilidades. Dia 26 de junho, dia do cuidar do que é do ser humano, dia de pensar sobre a sua formação psicossocial, dia de refletir sobre os valores sociais atuais, dia de pensar sobre a família, dia de pensar sobre o imediatismo contemporâneo, dia de refletir sobre as desigualdades, dia de pensar nas drogas lícitas e ilícitas, dia de refletir sobre os modelos de referencias, dia de questionar sobre os limites....Enfim, dia de refletir sobre a saúde integral do humano.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mudança Subjetiva na dependência química

Relato no tratamento em dependência química : mudanças subjetivas Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Este relato diz respeito a um atendimento com paciente com “ diagnóstico” dependência química, o qual está em tratamento. Este escrito revela mudança de posição subjetiva e assim, transformações do próprio paciente em relação à ele mesmo. De forma bem geral o paciente tem trinta anos e apresenta histórico do uso do crack. Retoma o tratamento e, no momento presente, está abstinente. Esboço alguns pontos do diálogo com o paciente: “Antes eu buscava motivação para párar de usar crack, buscava aqui, acolá, buscava em filho, nos pais, na namorada, em ganhar dinheiro, em ser alguém, enfim, a minha busca era constante, procurava a motivação fora. Assim sendo , neste período, eu lutava contra as drogas e a minha energia foi para este foco. Descobri, que para mim este não era a motivação, não era o caminho e por isto que eu não conseguia parar com o crack. Neste retorno ao tratamento a minha motivação não estava fora, nem estava em lutar para ficar sem o crack. A motivação emergiu dentro de mim no foco de ser mais feliz, de investir em mim, de me sentir bem e estar satisfeito comigo mesmo e assim, o crack perdeu o sentido. A minha motivação estava na vida e, naturalmente, a droga não tem mais espaço. Esta trajetória para mim teve mais sentido e assim, o importante não é a luta contra as drogas, mas a descoberta de si naquilo que tem sentido na vida para a própria pessoa” . Este relato retrata uma mudança subjetiva a qual reflete uma profundidade no que se refere a tratamento nesta área. O foco do paciente não foi se abster da droga mas voltar-se para si, encontrar um sentido em sua vida, saber o que gosta e assumir os seus desejos, suas escolhas com responsabilidade, independente da expectativa do outro. Logo que o paciente trabalhou em prol disto o sentido da droga se perdeu, não há porque mais utilizar substância psicoativa. Há o entusiasmo pela vida apesar das vicissitudes do existir. O paciente vai além da categoria de doente, se responsabiliza pela sua própria satisfação e seu modo de existir e se descobre para além das drogas. Ressalto que esta experiência é algo a ser compartilhado pois se percebe a possibilidade de mudanças subjetivas. A droga perde o sentido quando a vida ganha sentido. Quando o indivíduo se descobre, quando ele reconhece os motivos de seu uso de drogas, quando ele descobre outra coisa que ocupa o lugar da droga/ álcool ele não precisa mais utilizá-la. Que haja maior espaço de profundidade nas intervenções no campo das drogas.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pense nisto!

Não existe epidemia do crack. Existe uma epidemia de internações... Claudia Fabiana de Jesus Psicóloga clafaje@hotmail.com

sábado, 11 de maio de 2013

Reflexões....

Reflexões consideráveis no campo da dependência química Cláudia F. Jesus - Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde As experiências e vivências num determinado foco traz conhecimento, desenvolvimento no manejo de tal assunto, porém, acarreta desejo de ampliação acerca do tema e desejo por não se acomodar ou acostumar, procurando, frequentemente, novas perguntas. O compromisso com o novo, naquilo que não é comum é fundamental. É necessário olhar além do assunto que é conhecido e se indagar sobre o próprio tema, sobre os novos contextos, novas abordagens e, acima de tudo, se indagar sobre si mesmo na relação ao assunto. Como estou com o passar dos anos com este tema? O que é novo em algo que é comum para mim? A partir da contínua indagação, esta interrogação não me vem sem pensar no humano, no indivíduo que tem a relação com a substância psicoativa. O que representa esta pessoa? O que representa a atual sociedade compulsiva por diferentes necessidades criadas e tendo como utopia a sociedade do prazer. A representação de um sujeito que está inserido numa cultura que intolera o sofrimento psíquico e a elaboração do mesmo, que tudo pode e não sabe o que se quer, que há extremos vividos entre as faltas e os excessos, entre o nada e o tudo, entre desproteção e a superproteção,. Enfim, a droga, como está atualmente no nosso cotidiano, vem nos falar algo, vem nos revelar como a sociedade está, a qual é feita por pessoas. Precisamos ouvir, escutar o que este sintoma social vem gritar. Há um pedido de socorro e não percebemos. As relações humanas estão doentias e precisando ser cuidadas. O foco da dependência química não pode se resumir na química, na repressão, no tráfico, na patologia mas, é necessário ir além do que já se tem, do que já se sabe, ou do que se acredita saber. Considera-se a importância da contínua indagação sobre o homem atual, seu modo de viver na sociedade contemporânea e sua relação com as substâncias psicoativas, pois é inerente ao ser humano a complexidade e, que no meio desta caminhada não esquecemos da singularidade da pessoa e de sua subjetividade.

Motivação....

A motivação no processo de tratamento em dependência química Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Quando se fala em tratamento em dependência química é fundamental pensar sobre a motivação. Percebe-se que há um ideal nas intervenções em que o desejo do profissional que atua nesta área é de que as pessoas queiram se abster da substância psicoativa e estão empenhadas nisto. Muitas vezes não é isto o que acontece. O profissional está disposto a trabalhar em prol da mudança, bem como, a equipe profissional mas o paciente pode não estar neste momento. Por mais que isto seja um desafio é uma realidade que temos que lidar. É necessário que o indivíduo esteja motivado para iniciar o processo de tratamento ou que esta motivação se desenvolva ao longo das intervenções. A motivação é algo intrínseco e é subjetivo. Verifica-se, na prática profissional, que o paciente busca o tratamento quando há motivos significativos para o mesmo e esta motivação o estimula nas fases de seu tratamento. Observa-se que as pessoas precisam chegar em seu próprio limite e cada pessoa tem seu tempo, ritmo e momento, bem como, precisam querer mudar a forma como estão vivendo. O ser humano é um ser adaptável e até se adapta a viver em sofrimento, a continuar agindo mesmo tendo consequências negativas. Em muitos casos ele tem um ganho secundário na maneira como se vive ou algo o alimenta a agir deste maneira, mesmo se for algo destrutivo. È necessário que haja uma motivação em prol da mudança e a manutenção da mesma. Em cada momento do processo de tratamento o paciente precisa conhecer quais são suas maiores necessidades e em cada uma delas a motivação deve estar atuante. Sabe-se que a motivação oscila, se altera e é esperado que se tenha consciência da mesma e o que se precisa trabalhar para que se utilize da melhor forma. A motivação não é algo comportamental e sim é algo interno ao sujeito e para isto temos que compreender melhor os aspectos subjetivos do paciente, enfim, passa pelo processo de auto conhecimento. Cada um tem a sua motivação seja em diferentes áreas da vida e precisamos respeitar a motivação do outro. Muitas vezes projetamos nossa motivação no outro e não aceitamos quando o outro não está tão motivado. Exigimos que o outro esteja motivado para que nossa motivação se concretize, como num caso em que o profissional esteja motivado em tratar o paciente e este não tem este mesmo desejo neste determinado momento. Esta compreensão se faz necessário pois se refere ao amadurecimento no sentido das escolhas de cada um. Aprendemos sobre teorias de motivação, fases de mudanças motivacionais, porém, isto não basta na compreensão do ser humano. È preciso conhecer o próprio sujeito e é preciso ouví-lo além das teorias sobre motivação. È preciso que a nossa motivação seja compreensiva frente, muitas vezes, a desmotivação do outro e como lidamos com esta realidade. Você frente a desmotivação do outro também se desmotiva ? Assim sendo a motivação é um tema importante no campo de álcool ou drogas, mas também é importante na vida do indivíduo, de forma geral, porém, a forma como compreendemos acerca da motivação influencia nossas ações e nossas interpretações. Enfim, tome o cuidado como tem interpretado, usado e lidado com a temática motivação, pois muitas vezes o seu uso fica mais superficial e ele é mais complexo do que aparenta ser. O ser humano e suas vicissitudes vai além da motivação...

Confiança...

Abuso de substância psicoativa: Confiança e Auto confiança Claudia F. Jesus – clafaje@hotmail.com No que tange o abuso ou dependência de substâncias psicoativas sabe-se que o tema confiança é algo delicado e de forma geral, difícil de se resgatar. Nas questões envolvidas na dependência química a confiança no sujeito é algo que se perde ou vou além, será que teve alguma vez? Não iremos aprofundar nisto mas, vale a provocação. Focamos a perda da confiança quando a pessoa já está em processo de descontrole de si e do uso de substância. Os familiares, as pessoas ao redor e até mesmo profissionais podem desenvolver a perda de confiança no sujeito. Quando o sujeito opta por um tratamento ele reconhece a importância do resgata da confiança alheia e de retomá-la. È uma trajetória que requer persistência, paciência, mudanças de hábitos, comunicação, diálogo, autopercepção, entre outros. Realmente, muitas vezes, a pessoa volta a ter a confiança do outro ao seu redor e o trabalho será o da manutenção desta confiança. Verifica-se, que muitos pacientes se perdem nesta caminhada, apesar da confiança readquirida pois não sabe lidar com os impasses, com as dificuldades cotidianas e relacionais e com a pressão seja externa ou interna. Quando se percebe o indivíduo pode retornar ao uso de substância psicoativa ou ter uma recaída e lá se vai a perca da confiança, novamente. E o ciclo se repete. E cada vez mais a confiança fica distante de ser adquirido, vivido, sentido e até mesmo, desejado. Trago neste escrito não só questionamentos sobre a confiança e a perda da mesma pelos familiares e pessoas ao redor do usuário de substância psicoativa, mas é fundamental refletir sobre a própria pessoa que consome droga. Como ela lida com a confiança e a busca de retomá-la, mas ir além, como ela lida com a autoconfiança. Para falar da importância do indivíduo resgatar a confiança do outro é prescindível falar da própria confiança. Como pensar a auto confiança? Pode até mesmo as pessoas ao redor do indivíduo depositarem confiança nele e se ele não tiver a dele mesmo? A confiança alheia não se sustenta por muito tempo; ela não sobrevive. È necessário a auto confiança. O paciente precisa repensar se ele confia nele, se confia que pode parar com o uso de substância psicoativa, se ele confia que pode sair de uma recaída, se ele confia que pode resgatar a confiança do outro, enfim, se ele confia em si mesmo. Este trabalho deve ser anterior até mesmo em relação a ele querer a confiança do outro, se a dele mesmo ele não a tem. É necessário que este trabalho seja feito com o paciente pois se fala muito das dificuldades em reconquistar a confiança do outro e não se foca tanto na auto confiança do paciente. Assim sendo, considera-se fundamental o processo do paciente confiar em si mesmo pois é a partir de sua subjetividade que se transfere para o outro, para o externo. A auto confiança é algo importante no tratamento e nas evoluções do paciente em sua trajetória e na melhora de sua qualidade de vida. Seja bem vinda a auto confiança, o que não significa excesso de auto confiança. Ausência de auto confiança é algo que prejudica o indivíduo em seu processo de mudança. Acredita-se que a busca por um bem estar cotidiano está ligado diretamente a auto confiança.

Além da droga, qual outras droga?

Além da droga, substância química, há outras drogas? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Droga é um termo utilizado para definir substância psicoativa, a qual altera o funcionamento do sistema nervoso central e é um tema atual devido a seu aumento de oferta e de procura na sociedade contemporânea. Falamos tanto em drogas e seus efeitos e consequências, bem como, nas áreas de prevenção e tratamento. Droga, também é utilizado como um termo do senso comum e do cotidiano e pode estar ligado a tudo aquilo que não presta, tudo aquilo que não é bom e saudável, tudo aquilo que nos traz insatisfação, desconforto e mal estar. Assim sendo falamos muito desta droga no nosso cotidiano. No campo da dependência química se foca no tratamento o se abster da droga, o largar da droga, mas além disto é importante trabalhar sobre a importância de se largar outras drogas, não química, e trago esta reflexão. Além da substância química, que outras drogas você precisa abandonar? Voce já pensou quais drogas pertencem a seu cotidiano e que o que há de droga em sua vida? Que droga que atrapalha a sua vida? Ou a sua própria vida é uma droga? Há alguma pessoa que é uma droga na convivência? O seu trabalho é uma droga? O seu relacionamento está uma droga? O seu passado foi uma droga? Voce se acha uma droga? Os seus sentimentos estão uma droga? O seu sentido de vida está uma droga? O seu cotidiano é uma droga? A sua história é uma droga? Porque é tão difícil largar desta droga? Há muitas coisas negativas, destrutivas e ainda continuam fazendo parte de nossas vidas e muitas coisas não conseguimos abandonar. Há muitas coisas que a pessoa, até mesmo, tem uma relação de dependência e não consegue largar mesmo fazendo mal e trazendo prejuízos. Voce já buscou ajuda para isto? Ou focou somente na droga, substância psicoativa? É necessário entrar num processo de mudança e se abster da droga que existe na sua vida de forma geral. È importante deixar de ser uma droga para você mesmo. É necessário se abster daquilo que não nos auxilia na evolução humana. Algumas vezes se abandona a droga, substância psicoativa e ainda a vida pode continuar sendo uma droga, porque há (outra) droga que não foi abandonada. Muitas vezes a pessoa larga da droga, substância psicoativa, mas ainda não percebeu que ela continua sendo uma droga para si mesmo e, muitas vezes, se refugiava na droga, substância psicoativa, para não encarar outras áreas que são uma droga, seja representada por alguém, por uma circunstância, por uma situação, sentimento ou a própria vivência em si. É necessário perceber que a própria vida pode ser uma droga e é fundamental largar, se abster deste tipo de vida e para isto você, também, precisar se envolver num processo de mudança e precisa entrar em tratamento, enfim, se tratar melhor. Não há somente a droga, química, mas há droga como representante do que não é benéfico ao ser humano. Tudo aquilo que se refere a droga, de forma geral, é preciso repensar para que se trabalhe em prol do bem estar.

Aspectos Psicológicos....

Aspectos psicológicos: Eu os reconheço? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com O ser humano é um ser emocional. No campo da dependência química é fundamental a reflexão acerca dos aspectos psicológicos do sujeito. Muitas vezes, focamos os aspectos genéticos, sociais e preterimos os aspectos emocionais. É interessante refletir se o individuo tem ciência dos aspectos psicológicos e os reconhece, os quais precisam ser trabalhados. Na área de álcool ou drogas, em muitos casos, se tem resistência em aprofundar as questões emocionais, porém, os mesmos podem ser gatilhos para o uso de substância psicoativa. È indicado que as mesmas sejam trabalhadas. Esta tarefa não é tão simples assim pois o indivíduo necessita estar disposto para falar de seus aspectos emocionais. As reflexões seguem: Quais aspectos emocionais são importantes ser trabalhados? Tenho conflitos emocionais os quais influenciam no consumo de substâncias psicoativas? Quais minhas maiores dificuldades e meus conflitos? Há pessoas que não reconhecem que tem aspectos emocionais que não sabem lidar de uma forma construtiva e assim, lidam de maneira que surgem outras dificuldades e problemas e, aspectos psicológicos no tratamento em dependência química não trabalhados interferem no prognóstico. Assim sendo pontua-se que é necessário um investimento maior nos aspectos psicológicos e, muitas vezes, é indicado a psicoterapia individual. Observa-se que por mais que isto seja algo esperado, não se observa isto na prática. Verifica-se que muitas pessoas fazem acompanhamento psiquiátrico e não são encaminhados para a psicoterapia. Devido ao contexto da sociedade atual, vive-se a procura de respostas rápidas e mudanças de comportamento com o intuito de voltar o indivíduo ao padrão social e não há um espaço e disponibilidade para se trabalhar questões emocionais. O foco é mais o que é exterior, o que é observável e não se aprofunda nos aspectos subjetivos latentes. A reflexão deste escrito se refere a importância de se trabalhar os aspectos psicológicos no tratamento em dependência química, bem como, aprofundar nas questões emocionais do paciente.

Verdades Ditas

Consumo de drogas e verdades ditas Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com O consumo de drogas é um tema que mobiliza a sociedade e isto gera construções de saberes e conhecimentos tanto do campo do senso comum, do campo religioso e da área científica. Contudo, de forma geral, verifica-se que há verdades construídas que são absolutistas e são engesadas em si mesma. As verdades colocadas são ditas e reditas impedindo até mesmo novos questionamentos e novas perguntas. Estas verdades podem diminuir as angustias e incertezas de uma área tão complexa e desafiante quanto o uso de abuso de substâncias psicoativas. Esta temática nos traz a mobilização no sentido de estar aberto para novas indagações pois nos viciamos a dar as mesmas respostas e as mesmas ideias sobre o campo das drogas. Até mesmo há um padrão de caminhos a seguir que expressam verdades prontas, como se pudéssemos comprar a cura, como se pudéssemos comprar a solução e como se pudéssemos ter o direito de modelar o ser humano para ele não usar drogas... Ate que ponto, por verdades prontas, invade-se o espaço do outro, a responsabilidade do outro e se dita um saber acerca do outro, desconsiderando a próprio saber do sujeito sobre si mesmo. As verdades prontas ditas por alguém que está no lugar da verdade, do saber, da moral, do certo, do controle, não abre o espaço para a pessoa falar de si, de suas ideias sobre o seu próprio sofrimento ou adoecer, enfim, as verdades ditas impedem que o paciente se coloque. Estas verdades ditas impedem que o sujeito seja indivíduo, ele se assujeita a uma verdade alheia. Em tratamentos para dependência química que a verdade absoluta é o ponto chave não se vê a singularidade do sujeito. Trago a reflexão acerca de nossas praticas pois sem perceber podemos estar atuando com verdades prontas. Quais verdades você tem como escudo e a impede emergir suas angustias, inseguranças, medos e incertezas de um fenômeno complexo que não são as drogas, mas o próprio ser humano. Quando no reportamos as drogas, o álcool as dificuldades nesta área estamos falando do ser humano. Não há verdades prontas sobre o ser humano. Quais verdades você acredita, que ao invés de estar auxiliando o indivíduo no seu processo de tratamento e evolução está o alienando e o engessando e mais, até mesmo, escravizando-o em verdades prontas. Verifica-se que a sociedade está perdida neste âmbito e até pode preferir ter respostas prontas, caminhos padronizados do que aceitar que ainda há muito o que construir nesta área, há muito o que se questionar e modificar as próprias ideias pré-concebidas sobre o tema. Não irei trazer estas verdades prontas pois não quero reproduzi-las aqui, mas é um convite para tal questionamento: Será que realmente esta verdade serve para aquela pessoa ou é mais uma verdade que você acredita e quer que o outro acredite também?! Não estou dizendo que as pessoas não podem utilizar algumas coisas parecidas, do outro, aprender com o outro, considerar o que os profissionais falam, mas precisamos auxiliar o indivíduo a ser a referencia de sua própria vida, a ser a referencia de seu processo de mudança e não criar dependência de uma verdade absoluta. O ser humano é um ser em movimento, em mudança, algo inerente a vida humana, mudanças estas internas e externas. Há verdades aprendidas que impedem o indivíduo de se desenvolver, porém, alguns pagam este preço em nome de certezas. Outros preferem construir as suas mudanças, abertos a novas perguntas e questionamentos, continuando aprendendo, criando e reiventando.

O que eu acredito ?

Consumo de substâncias psicoativas: O que eu acredito se torna verdade Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde A práxis com pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas traz protocolos de atendimentos, traz uma série de ações pré-estabelecidas e intervenções específicas, mesmo considerando a subjetividade. Além do que já está preconizado em tratamentos de qualidade trago uma reflexão. Há de se questionar com a pessoa o que se acredita, neste momento de sua vida? Em atendimentos, seja em grupo ou individual, se observa que há pessoa que até, estão motivadas para o tratamento, porém, acreditam no que ouviram dos outros, que não conseguirão se abster das drogas/ álcool. Se o indivíduo não acredita que poderá largar, realmente, esta verdade se torna real e a própria pessoa, inconsciente ou não, pode boicotar qualquer evolução e mudança, ficando realmente sujeito da droga. È preciso sobre o que a pessoa acredita em seu processo de tratamento, processo de mudança. Há muitas ideias e crenças sociais, como “ quem é viciado não tem jeito”, “ quem é viciado não larga das drogas”, “ A pessoa drogado ira ser sempre a mesma”, enfim, já uma desesperança e uma descrença de que o indivíduo pode se abster da substância psicoativa e viver uma vida sem precisar utilizá-la. Contudo, os usuários de substâncias acabam aceitando algumas crenças, ate algumas ditas científicas, junta com a sua mesma, que muitas vezes, é negativa e pessimista e, realmente, não se consegue se abster da droga/ álcool. O que refletimos é que o que se acredita se torna a verdade e o indivíduo fará de tudo para prová-lo. Nas intervenções com pessoas que consomem drogas/ álcool é preciso trabalhar acerca do que se acredita e isto pode não estar no nível da consciência e sim, no campo inconsciente. É interessante ter ciência de suas verdades pois nem sempre elas são tão claras. Muitas vezes, queremos algo mas não acreditamos que queremos ou aprendemos a não acreditar, ou mesmo, há outras crenças sobre aquele determinado tema/ assunto. No campo das drogas é comum o indivíduo procurar ajuda mas pode haver uma descrença que se pode viver sua vida sem usar substância psicoativa. È colocado que é dificílimo isto acontecer e o indivíduo quando usa droga/ álcool já tem um destino pré-estabelecido. Isto pode ser assimilado e a própria pessoa acredita que ela terá que “ lutar para sempre” e o destino dela sempre será a droga mesmo que ela não usa mais, mas sempre terá que lutar, então a droga permanecerá, embora seja a negativa dela. Diferente de uma concepção de que a pessoa compreende a própria dinâmica, trabalha os aspectos importantes, elabora e encontra outros recursos para viver a própria vida e assim, não precisa lutar, e sim vive de outro modo. É difundido algumas ideias e verdades e, reforço a importância de se questionar quais são e como elas fazem parte de seu cotidiano, de sua vida e de seu processo de mudança. É importante, frequentemente, refletir sobre o que se acredita, pois é a partir disto que as verdades “subjetivas” se tornam verdades. Quais são as suas verdades? Cuide bem delas pois as mesmas tem um poder significativo.

Trair....

Dependência de drogas e a representação da traição Claudia Fabiana de Jesus - Psicóloga – clafaje@hotmail.com Podemos pensar a dependência de drogas por diversos viés. Irei apontar refletindo sobre a relação do sujeito com a droga, que em muitos momentos e fases podemos falar de uma relação de paixão. Paixão no sentido de não pensar antes de agir, de ser algo desenfreado, sem medidas e sem consequências, no mesmo campo da cegueira. Paixão, vem do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil, é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio. Embora estejamos falando de algo que pode puxar o indivíduo como um ímã, não se tira a responsabilidade do sujeito que busca a droga , sendo esta é uma escolha, o qual tem suas consequências. A relação da pessoa com a droga acaba sendo uma relação amorosa, que muitas vezes, nada entra no lugar, só existe o indivíduo e a droga. Neste aspecto verifica-se uma relação de prazer, tirando os pontos de prejuízos, onde não se entrega sem pensar. È interessante compararmos com a relação amorosa, pois a sensação é no corpo, o prazer buscado na via corpórea , não há uma mediação, a busca pelo prazer é imediata e auto erótica. Em psicanálise usamos a palavra gozo e, assim o objeto de gozo do indivíduo é a droga. A relação com outro ser humano traz mais impasses, dá mais trabalho porque o outro é ser humano que pensa diferente, tem outros desejos e assim, a relação com o outro é dual, e requer mudanças em si mesmo. Com a droga, seu objeto de preferência, o sujeito tem o prazer em si mesmo. È interessante nos relatos pois a pessoa vai com a droga para um motel ou hotel. Se deixa de se relacionar com uma pessoa, não tem o foco na relação sexual com outro ser humano e tem com a droga. Se deixa de investir nos relacionamentos e se gasta com a droga, se deixa de investir tempo com uma namorada, por exemplo e se investe tempo na droga e ate no tempo de se recuperar da mesma. O investimento vai para a droga e deixa de ser para uma pessoa. Nesta aspecto quando o indivíduo dependente de drogas tem um relacionamento conjugal de há uma traição pois se troca a companhia, se troca tempo, se troca a relação sexual, se troca a pessoa pela droga e se caracteriza por traição porque se mente para ir usá-la, se mente para enganar o outro, enfim, a pessoa se sente enganada, traída. Além deste ponto da relação do indivíduo com a droga e exclusivamente nesta simbiose, podemos pensar na relação do indivíduo com ele mesmo, pois o prazer está em si mesmo a partir do efeito da droga. Excluindo os pontos negativos, a pessoa escolhe gastar o dinheiro consigo mesmo. Ela deixa de assumir os compromissos alheios, com os demais ao seu redor, deixa de investir no relacionamento, deixa de passear, de viver outras sensações e momentos, enfim, ela pensa nela, somente nela. Esta forma de se relacionar consigo mesmo se torna um sentimento egoísta, o qual se preocupa somente consigo mesmo e seu interesse. Assim sendo no campo conjugal, o usuário compulsivo por drogas muitas vezes troca a outra pessoa pela substância psicoativa, caracterizando sentimentos de traição. Neste aspecto o importante é como lidar com isto, quais os limites de cada um e o que cada um manterá ou mudará. Muitas vezes se quer mudar a relação mas não há mais relação com a pessoa e sim com a droga. A questão é o que o que fazer diante deste dilema e quais serão as escolhas a partir disto.

Novas Possibilidades de Compreensão......

Dependência química: Novas possibilidades de compreensão Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com A questão do uso de álcool e drogas se altera a partir da evolução e das mudanças da sociedade. Os conceitos são transformados conforme padrões vigentes da época, bem como, a conceituação sobre saúde e doença. Ainda, atualmente, há uma compreensão moral e preconceituosa sobre a questão das drogas, porém, já há evoluções neste sentido. Temos muito marcante uma compreensão de doença, voltado a partir do senso comum e se trabalha em um padrão igualitário e normatizador as pessoas. Por meio de pesquisas científicas e avanços no campo do conhecimento científico há a compreensão patológica a partir de manuais de diagnósticos, focando um modelo biomédico. Neste se observa a prioridade nas questões genéticas, neurológicas e cerebrais, com ênfase na medicação. O foco se centra no cérebro. Uma compreensão além desta se refere ao modelo biopsicossocial em que não há primazia da doença e das questões cerebrais mas sim as influências de demais áreas como social, psicológica, enfim, há outros campos importantes a serem investigados e trabalhados na complexidade das drogas e do ser humano. Neste aspecto a equipe profissional é fundamental e se destaca o trabalho interdisciplinar. Ainda é um desafio, porém, se observa o avanço nesta compreensão. Podemos ir um pouco além deste modelo, considerando sim o modelo biopsicossocial, porém, focando mais os aspectos singulares do sujeito, bem como, sua subjetividade. Assim, não há um padrão de atuação comum para os pacientes pois sabe-se que a singularidade deve ser considerada e será construída intervenções específicas para cada caso. Cada pessoa tem uma história particular e o tratamento se dá a partir desta consideração e é construída, conjuntamente, com o paciente. Não há um padrão rígido a seguir mas intervenções e ações que promovam saúde no cotidiano do paciente. A compreensão se desloca da doença, da patologia, do determinismo para a promoção de saúde, para as escolhas e para a responsabilidade e para a singularidade e a subjetividade. Ressalta-se a importância de ampliar novas possibilidades de compreensão acerca das drogas, suas vicissitudes e o ser humano. Para esta possibilidade é importante que a pessoa esteja aberta a novos questionamentos e reflexão não somente na área técnica da dependência química mas uma reflexão da própria sociedade, uma reflexão das mudanças do contexto contemporâneo, uma reflexão acerca do próprio conceito de saúde e de doença, uma reflexão acerca das ideologias atuais, enfim, uma reflexão do próprio ser humano. Acredito que nossa compreensão sobre um determinado assunto vai evoluindo com o tempo porque temos a capacidade de amadurecer, aprender e transformar. Acredito que se percebe que as compreensões sobre a temática dependência química estão presentes no cotidiano e nas ações das pessoas. O que trago aqui é o questionamento sobre quais suas compreensões nesta área e se você tem se permitido ampliar suas compreensões. Esta atitude representa liberdade e que sejam bem vindas novas compreensões.

Drogas: A primazia do orgânico sobre outras áreas...

Dependência química: Porque somente química? A primazia do físico- orgânico: Claudia F. Jesus – Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde – clafaje@hotmail.com A dependência química é uma questão presente no processo de saúde e doença e é descrito nos manuais e sabe-se que o conceito vem se alterando com o passar do tempo, de acordo com as mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outros e depende do contexto histórico. No momento, se observa uma mudança de paradigma do modelo biomédico para o modelo biopsicossocial, porém, isto se vê mais na teoria do que na práxis. No modelo biomédico se priorizava os aspectos biológicos, orgânico, anatomo-fisiológico em detrimento de outros aspectos da vida humana. Neste modelo o médico é a figura central em que se encara o ser humano como uma máquina que está disfuncional e ele tem a função de reorganizá-la. Aqui o paciente é passivo e o foco era a institucionalização, tendo como ponto fundamental a internação. No modelo biopsicossocial a saúde é algo mais amplo e complexo, que não depende única e exclusivamente de uma questão biológica. Tornou-se inegável a relação que existe entre os fenômenos saúde/doença e os fatores psicológicos, sociais, políticos, econômicos e ambientais. O processo saúde/doença está diretamente relacionado à própria complexidade e singularidade do viver do ser humano e da subjetividade. A abordagem exigida para a dependência química é coerente com o modelo psicossocial de saúde em foco na atualidade. Discute-se não só as questões orgânicas e psicológicas envolvidas, mas também os aspectos sociais, políticos, econômicos, legais e culturais inerentes a esse fenômeno. Apesar de ser preconizada a concepção biopsicossocial se observa discursos biomédicos e, ate mesmo, se reproduz nas falas dos profissionais , o que advem de manuais estatísticos, descritivos que são padrões médicos a serem seguidos. È necessário repensá-los pois este não contempla a visão biopsicossocial e, se fala que a dependência química é uma síndrome pois não tem somente uma causa e, portanto é multifatorial. Há de se perguntar a importância de se rever ate mesmo a terminologia dependência química, pois ela tende a questão bioquímica, por mais que acreditamos que este não é só o ponto, está na sua terminologia. Atualmente, ate em outras patologias se reflete sobre suas conceituações e qual o uso da mesma, além da reflexão sobre o próprio diagnóstico. Existe um interesse social que o sofrimento humano se torne doença pois assim, se constrói medicamentos, aumentando lucros e interesses de uma categoria. Chega-se ao ponto de ver uma sociedade afeita a drogas prescritas pelos médicos. Porque dependência química? O foco aqui está na substância química, na questão cerebral e até já ouvir o absurdo que “ dependência química é uma doença cerebral”, tirando a subjetividade e a responsabilidade do indivíduo. È necessário refletir sobre esta tendência forte, massificante e dominadora. A droga não pode se tornar o bode expiatório social. Que possamos ir além deste discurso e encontrar um sujeito para além de uma substância química. È necessário repensar a condição humana na sociedade contemporânea.

Manutenção da Abstinência...

Drogas: O sofrimento da manutenção da abstinência Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde - clafaje@hotmail.com No campo de álcool / drogas se foca a busca pela abstinência das mesmas, que é o rompimento abrupto do uso de substâncias psicoativas. Além desta via de tratamento há a redução de danos que visa reduzir os prejuízos de quem consome substância psicoativa para aqueles que não querem parar ou desejam reduzir o uso. Neste aspecto a redução de danos é uma estratégia de saúde que prioriza a escolha e a liberdade do sujeito, porém, não se exclui a abstinência, a qual pode ser uma busca para se atingir a mesma , mas o indivíduo não precisa estar abstinente para iniciar o tratamento e, ressalta-se que se preconiza as duas possibilidades. Dependendo da abordagem adotada, aprendida e vivenciada pelo indivíduo no seu tratamento ele terá a busca pela abstinência e a manutenção da mesma. O que é comum verificar é o sofrimento para manter a abstinência e como isto é sofrido pelas pessoas. No campo clínico a dificuldade não é se desintoxicar e sim é manter a abstinência. Ate se ouve que “a luta é diária” e, que apesar do maior tempo em abstinência o sofrimento continua sendo considerável. Sabe-se que o desafio é verdadeiro, porém, há muitos casos que se observa que, com o passar do tempo, estar abstinente do álcool/ drogas não é este sofrimento tão marcante pois o indivíduo aprende a lidar com a fissura, aprende a ter mecanismos de manejo, aprende ao auto monitoramento, aprende sobre si mesmo, aprende sobre prevenção de recaída, aprende a manutenção da abstinência, sem levar consigo, continuamente e automaticamente, o sofrimento. O indivíduo está em outro momento de seu processo de mudança e manutenção da abstinência e suas vicissitudes e, isto não quer dizer, necessariamente, estar em luta e em sofrimento. A manutenção da abstinência, entre outros olhares e interpretações, pode representar o estar estável, apesar dos obstáculos e desafios. Quando se ouve um ditado popular, “ você terá que lidar com esta doença, com este problema a vida toda”, soando que representará uma luta, um sofrimento e que irá carregar isto para o resto da vida”, fica refletindo sobre a representação social disto pois traz uma carga e o indivíduo se sente o eterno devedor, que terá que carregar esta cruz... Saindo deste olhar podemos pensar que o indivíduo escolheu se abster das drogas, buscou auxílio por isto, lidou com as recaídas, lidou com os altos e baixos, aprendeu alguns recursos par lidar com isto, entendeu a sua dinâmica com as substâncias psicoativas e está mantendo a abstinência, o que significa um novo modo de viver, um novo modo de enxergar a si mesmo e ao seu redor. Isto pode sim ter um cunho mais prazeroso pois foi um interesse da própria pessoa mudar de vida. Qualquer outra questão da vida, do cotidiano, aprendemos e desejamos algo que levamos como uma filosofia de vida, a qual vai ser mantida pois representa uma mudança de hábito, de comportamento e de sentimentos e isto é, também, se frustar, é dizer não para si, é deixar de comer o que gosta, por exemplo, é ter disciplina para manter aquilo que se deseja como algo importante na vida. Quando se refere a um peso de ter que lidar com ficar sem drogas se relaciona com o que será “para sempre”, no sentido da manutenção” e este ser para sempre também, soa como um peso e trago a seguinte reflexão: Quando se fala em se abster de substância psicoativa, fazer tratamento significa um auto cuidado, uma busca por uma qualidade de vida, uma forma de se viver que se considera boa e que será mantida e isto, necessariamente, também, será inserido no cotidiano como algo que já faz parte, onde haja prazer em manter isto e que seja o mais natural no modo de viver da pessoa. Então, quando se fala em tratamento é para o resto da vida, pode ser encarado como tudo aquilo que é importante ser cuidado é para o resto da vida também. Temos que cuidar diariamente da alimentação, do sono, das relações interpessoais, da saúde física, entre outros. Os cuidados é para o resto da vida, não como algo difícil de fazer ou de digerir pois já faz parte da filosofia da pessoa e do modo de viver, pois se refere a fatores que promovem saúde. A manutenção da abstinência da substância psicoativa é uma promoção de saúde e estes fatores devem ser alimentados e cuidados, diariamente. Salienta-se a importância da modificação do paradigma no campo da manutenção da abstinência de drogas em ser um peso de ser para sempre, de que é para o resto da vida, de que é sofrido ter que levar isto e não ser uma pessoa normal por isto. È interessante este novo olhar para esta questão pois se pode compreender como algo que o ser humano deseja manter um determinado comportamento e ele terá que fazer esta manutenção diária, mas não vista como mais um peso, mas como algo importante que já faz parte de sua vida. Saí do sofrimento da manutenção da substância psicoativa para ir por prazer, por disponibilidade, por interesse. Responsabilidade da manutenção é algo positivo pois favorece ainda mais a própria mudança cotidiana. Quando se fala que não há cura para drogadependência no sentido de ser para sempre, também, para todo o resto na vida, também, não tem cura pois será necessário o cuidado sempre, no dia a dia e é algo que não se acaba e sim será cuidado. Assim, ressalto que não se foca na questão da cura ou não, mas de que tudo que é humano é algo que é para o resto da vida de cada um e como cada um lida com isto. Tudo tem que se cuidar no dia a dia. Seja bem vindo o auto cuidado diário para que se construa e se vivencie o bem estar e a manutenção de uma vida com mais qualidade.

Quem Sou Eu Sem a Droga?

Quem sou eu sem a droga? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com No que tange o sujeito e a dependência química é comum o indivíduo se misturar com a droga e se definir como um “dependente químico”. Ele pode perder sua identidade e a mesma se transformar na identidade do “drogado”, “do dependente químico”. Também é comum verificar esta leitura até mesmo pelos profissionais e pessoas que trabalham nesta área. È importante que a pessoa tenha consciência de sua relação com a substância psicoativa e buscar intervenções, porém, é malefício ela se resumir numa categoria. A pessoa tenta se achar na dependência química mas pode se perder de si mesmo. Muitas vezes, já está perdida de si e se achando na dependência química acredita que se encontrou. Nem sempre isto é saudável e até que ponto isto se desenvolve, se estagna e é importante refletir. A pessoa, muitas vezes, não sabe mais falar de si sem falar da droga. Isto por um tempo é considerável, porém, se observa o avanço quando o paciente sai de um discurso pronto e acabado e constrói o seu próprio discurso e pode se encontrar com a própria subjetividade. As vezes, isto é alimentado pelos cuidadores e reforça ainda mais o rótulo. È algo de se pensar o uso de um “ diagnóstico”, a infuência deste na vida do paciente e o manejo disto. É fundamental ter o espaço para se refletir sobre o indivíduo sem a droga (álcool) no sentido dele questionar a si mesmo, se perguntar de si. Não é uma tarefa simples pois atuamos no automatismo e somente no discurso da patologia, porém, é necessário ir além. Quem é você sem droga? Quais são suas características? Quais são suas emoções? Como é você na sua singularidade? Quais são suas dificuldades e facilidades? Como é a sua história? Quais são seus interesses? Como você vive a sua vida? Do que você gosta e não gosta? Como é fazer parte de sua família? Quais são os seus medos? Quais são suas escolhas? Como você se vê? O que você deseja? Assim sendo, é considerável possibilitar o indivíduo a entrar em contato com seu eu e com sua subjetividade. O indivíduo não pode se resumir no uso de substância psicoativa pois ele é mais complexo que isto e está para além disto, apesar de muitas vezes não aparentar. É encontrar o sujeito que existe para além das drogas e é necessário trabalhar em prol disto. Este desvelar de si mesmo representa um amadurecimento pessoal e emocional e, também, sabemos que para isto se realizar é importante o indivíduo estar neste momento e se preparando para tal. Sem dúvida deve levar em conta o momento de vida e disponibilidade do indivíduo em saber de si além das drogas. Enfim, este questionamento Quem é você sem a droga? É uma reflexão significativa, complexa e importante no campo das intervenções em álcool ou outras drogas e é necessário refletir se esta indagação é realizada e trabalhada. Esta reflexão se refere a subjetividade que, muitas vezes, é preterida em prol da categoria dependente químico e é fundamental conhecer e compreender a singularidade do sujeito.

Experiência profissional...

Experiência no campo das substâncias psicoativas. Trabalho com esta temática oficialmente há treze anos.Sem falar de minha vivência na pré-adolescência com meu tio paterno no trabalho de prevenção nas escolas. Falar disto está ligado à minha profissão e as minhas escolhas neste campo. Estas escolhas são repletas de dedicação, buscas, empenho e acima de tudo, amor. . Trabalhar com a temática drogas é algo que traz diversos questionamentos: motivos, medo, receio, admiração, incertezas, impotência, tabus, derrotas, coragem, causa, saúde pública e tantos outros. Estar trabalhando com isto me remete ao enfrentamento da realidade e desafios. Este tema faz parte de nossa realidade e somos responsáveis em contribuir para o enfrentamento da temática de forma mais madura, menos simplista e muito mais aberto a novas perguntas do que a busca de respostas já pré-determinadas. Temos que ter a ousadia de ampliar nossa visão sobre as drogas e mudar nossos paradigmas, o que nos remete a quebrar as próprias ideologias e as idéias preconcebidas. Temos que ter a simplicidade de saber que muitas vezes não sabemos o que fazer, mas a busca por ela permanece. Temos que ter a capacidade de segurar o sofrimento do outro, ate que ele possa descobrir a sua própria capacidade disto. Temos que respeitar o ritmo e o tempo do outro, sem apressá-lo com nossas angústias. Temos que olhar para o outro e sentir que ele é responsável por ele mesmo e confiar nisto. Temos que ter uma estrutura que segura, acolhe e apóia nas recaídas, nos momentos difíceis em que muitos desistem, mas você está com o outro para que ele não desista dele mesmo. Temos que dizer menos o que outro deve fazer e saber ouvir mais para que ele mesmo possa exercitar isto na própria vida. Temos que admirar as pequenas conquistas, que muitas vezes devem ser encaradas como grandes vitórias. Temos que cultivar uma relação de empatia e de respeito mútuo. Temos que auxiliá-lo a enfrentar a si mesmo, valorizando suas qualidades e assumindo suas limitações. Temos que aceitar que é necessário perder algumas coisas para se ganhar outras. Temos que ajudá-lo a encontrar novas alternativas, a busca de novos prazeres e novas maneiras de lidar com os problemas. Temos que acolher o choro e estar junto para que se encontre o sorriso. Temos que olhar para a pessoa e não para a droga. Temos que focar a saúde e não a doença. Temos que estar junto na caminhada do outro, sabendo que há momentos que haverá muito cansaço e obstáculos e assim, auxilia-lo a não desistir. Temos que saber que poderá haver algumas más escolhas, alguns escorregões e que não é preciso jogar tudo o que se conquistou no lixo e achar que tudo não valeu a pena. Temos que aceitar que os outros tem as próprias escolhas e auxilia-los a lutar por isto, tendo como ponto básico, a responsabilidade. Temos que contribuir para que a pessoa se encontre além da droga. Temos que acreditar na mudança do ser humano. Temos que ser gratos aos outros pelo tanto que também nos ensina. Temos que auxilia-lo a acreditar em si novamente, mesmo que muitos não façam mais isto. Temos que contribuir para a importância do estabelecimento da ética humana. Temos que zelar pela verdade do outro e aprender a valoriza-la, mesmo que ela venha por meio de uma mentira. Temos que ouvir para além do que é falado. Temos que preservar a vida e isto se reflete nas relações com as pessoas e assim, auxiliar na busca de uma melhor convivência consigo mesmo e com os outros. Temos que cuidar da auto estima e fazer escolhas melhores. Temos que contribuir para que se busque contemplar a vida, ao invés de ficar somente pensando sobre a vida. Temos que ampliar a conscientização de que a saúde, de forma geral, esta nas mãos de cada um. Saliento que fazemos parte da história do outro e de que uns mais outros menos, influenciamos e somos influenciados na convivência humana. Sou muito grata por isto. Cláudia Fabiana de Jesus

Psicoterapia....

O Barato da Psicoterapia Claudia Fabiana de Jesus - Psicóloga/ Mestre em Psicologia da Saúde - clafaje@hotmail.com Se ouve falar com frequência o “barato” que o uso de drogas possibilita. È comum ouvir o indivíduo expressar que teve um barato, que as drogas dão barato. De forma geral, esta conceituação se refere fazer a cabeça, ficar bem, ter um prazer excepcional, ficar louco, enfim, se sentir bem... Muitas vezes, o indivíduo não conhece outros caminhos ou outras maneiras de sentir “ barato” na vida. Nada na vida dele gera um certo barato, embora saibamos que há outras possibilidades de sentir boas sensações, como na área de esporte, cultura, lazer, motivações, trabalho, relacionamentos afetivos, espiritualidade, aventuras, filosofia, escrita, diálogo, entre infinitas tantas outras. Neste escrito trago, especificamente, o barato da Psicoterapia. O espaço de análise permite o processo de auto conhecimento e remete a um barato pois se descobre que você é único e que sua felicidade depende muito de você. O barato de falar o que se pensa e o que se sente e ter alguém que o compreende, simplesmente, por compreender... O barato é voltar a se olhar e aprender a se respeitar mais.... O barato é estar aberto a novos desafios e as condições de erros e falhas... O barato de sair de um processo de auto punição e reconstruir uma outra auto imagem... O barato de voltar a ter sonhos e metas.... O barato de aprender a lidar com o não e a elaborá-los. O barato de assumir sua singularidade e o seu modo de ser no mundo.... O barato de conhecer e respeitar os próprios limites... O barato de desapegar do outro e sair do controle alheio....O barato de desconstruir um trauma, uma marca e fazer algo com isto.... O barato de assumir as próprias escolhas... O barato de se curtir e de escolher coisas boas para si...O barato de olhar para a vida de forma mais leve, o barato de aprender a exigir de você o que você pode dar. O barato de conviver com as angustias e o vazio existenciais,... O barato de deixar de se queixar e de ser vítima... O barato de se responsabilizar pelo cotidiano....O barato de correr riscos.....O barato de olhar para a natureza e se sentir parte dela. O barato de aprender a silenciar a mente.... O barato de não ter vergonha de ser feliz... O barato de não ligar para que os outros dizem...O barato de ser independente emocionalmente. O barato de expressar as próprias emoções e senti-las em sua totalidade... O barato de estar feliz e não precisar dar explicação para nada... O barato de se sentir em paz e renovar os sentidos da própria vida... O barato de estar aberto ao novo e as novas aventuras da vida. O barato da aceitação dos ensinamentos da vida... O barato de não esperar a felicidade do outro e cultivar a sua... O barato de resignificar momentos de crise, situações de tragédia... O barato de não ter medo de viver, nem de morrer... O barato de contemplar a existência... Diante do exposto salienta-se que a experiência com a Psicologia pode fazer o indivíduo sentir um certo “ barato”. Este barato não é comprado ou estimulado por substâncias psicoativas, ele é construído a partir do próprio desejo humano e do envolvimento com as próprias mudanças. Este barato se paga um preço alto, não no sentido monetário ou até é, mas foca-se no sentido emocional pois requer que a pessoa mobilize os seus aspectos subjetivos e psicológicos. Se faz presente a reflexão acerca de se abster de “ baratos”, até então conhecidos, para buscar novos baratos. Trago o convite para vivenciar o barato na Psicoterapia... Se entregue a psicoterapia e descubra novas sensações.

Palestras sobre "Drogas" Repense!

O que se reproduz nas palestras sobre dependência química? Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga – clafaje@hotmail.com A dependência química é algo, hoje em dia, debatido com mais frequência. Há muitas pessoas engajadas nesta temática e, participamos de diversas palestras nesta área. O que se observa que é comum são palestras cujo foco aborda a dependência química como algo engessado, “pronto”, com discurso normatizador sendo expressado em um show de oralidade, com fala ate bem animada, com tom motivador mas, o conteúdo é o mesmo há muito tempo. Alguns mais cuidadosos, trazem dados científicos para ilustrar suas palestras, dando ar mais sério, saindo do senso comum mas preso as ideologias da ciência contemporânea e da visão biomédica. Outros colocam a vaidade própria na sua apresentação querendo mais falar de si do que falar da palestra ou focando mais para mostra resultados. Mas, na prática não se tem metodologia adequada para realmente avaliar os resultados de uma práxis. O que se vê, também, é uma busca por trazer soluções pessoais ou institucionais e, muito raro palestra que traga mais questionamentos e análise crítica. Talvez, seja porque é angustiante a complexidade do “campo” das drogas e construímos ideias que nos mantém com certo grau de certeza. Outros repetem palestras falando de suas experiências, as quais são exemplos a seguir, sem que se questione a existência da singularidade e a importância da escuta para o outro. Outros repetem palestras com o intuito de ensinar como deve ser a partir de um padrão, um script. Falando nisto, eu estava numa destas palestras e uma colega, sentada ao lado, mal sabendo o que eu estava pensando, me disse: “...Nossa! Fui numa palestra deste palestrante e ele falou as mesmas coisas, as mesmas frases, as mesmas brincadeiras, nada mudou...” Sabemos que o ser humano monta para si uma fala pronta seja em sua vida pessoal, cotidiana e ate mesmo na vida profissional. Mas, há a necessidade de sair disto pois o ser humano tem capacidade criativa, capacidade de renovar, de rever as próprias construções, de criar novas perguntas, de sair de uma posição cômoda e se aventurar a questionar as próprias ações, ideias, as próprias verdades. È fundamental o indivíduo refletir sobre sua prática mais do que vem fazendo, como se observa, neste exemplo, das palestras. É válido que o profissional possa mexer naquilo que ele acha que sabe e trazer algumas incertezas e reflexões. È importante ter dúvidas. Escutei há algum tempo: Quando está tudo muito bem, precisa rever”. Enfim, acredita-se na importância de encontros, palestras sobre dependência química e isto já está caminhando, porém, é necessário que as mesmas possam trazer mais questionamentos do que respostas e que o ser humano possa aprender a lidar com isto.

Família...

Consumo de drogas, familiares e os seus impasses Por Claudia F. Jesus- Psicóloga – clafaje@hotmail.com Diante dos desafios, se questiona: Não há mais o que fazer... Há o cansaço diante de tantas tentativas... Há a sensação de impotência, de culpa, de vergonha e de decepção... Há o medo, a incerteza, a angustia e o medo do futuro... Há a desesperança e a ausência da fé... Há o abandono do outro amado... Há a necessidade do tempo e aceitação do não controle... Há a busca de compreensão e autopercepção... Mais tarde, só mais tarde, há o outro já esquecido ou desconhecido.... Neste mais tarde há a aproximação, o contato, o renascimento do afeto... Há o respeito, a separação e independência mútua... Há o diálogo, a amizade e a alegria compartilhada... Há a aprendizagem com o passado e o desapego com o futuro... Há vida no presente... Há a desconstrução e a construção do não saber por vir... Há o entusiasmo pelo novo e a motivação da surpresa... Há uma nova relação, há um caminho a se abrir... Bem vindo as mudanças no indivíduo e nos familiares.

Quem Sou Eu Sem a Droga

Quem sou eu sem a droga? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com No que tange o sujeito e a dependência química é comum o indivíduo se misturar com a droga e se definir como um “dependente químico”. Ele pode perder sua identidade e a mesma se transformar na identidade do “drogado”, “do dependente químico”. Também é comum verificar esta leitura até mesmo pelos profissionais e pessoas que trabalham nesta área. È importante que a pessoa tenha consciência de sua relação com a substância psicoativa e buscar intervenções, porém, é malefício ela se resumir numa categoria. A pessoa tenta se achar na dependência química mas pode se perder de si mesmo. Muitas vezes, já está perdida de si e se achando na dependência química acredita que se encontrou. Nem sempre isto é saudável e até que ponto isto se desenvolve, se estagna e é importante refletir. A pessoa, muitas vezes, não sabe mais falar de si sem falar da droga. Isto por um tempo é considerável, porém, se observa o avanço quando o paciente sai de um discurso pronto e acabado e constrói o seu próprio discurso e pode se encontrar com a própria subjetividade. As vezes, isto é alimentado pelos cuidadores e reforça ainda mais o rótulo. È algo de se pensar o uso de um “ diagnóstico”, a infuência deste na vida do paciente e o manejo disto. É fundamental ter o espaço para se refletir sobre o indivíduo sem a droga (álcool) no sentido dele questionar a si mesmo, se perguntar de si. Não é uma tarefa simples pois atuamos no automatismo e somente no discurso da patologia, porém, é necessário ir além. Quem é você sem droga? Quais são suas características? Quais são suas emoções? Como é você na sua singularidade? Quais são suas dificuldades e facilidades? Como é a sua história? Quais são seus interesses? Como você vive a sua vida? Do que você gosta e não gosta? Como é fazer parte de sua família? Quais são os seus medos? Quais são suas escolhas? Como você se vê? O que você deseja? Assim sendo, é considerável possibilitar o indivíduo a entrar em contato com seu eu e com sua subjetividade. O indivíduo não pode se resumir no uso de substância psicoativa pois ele é mais complexo que isto e está para além disto, apesar de muitas vezes não aparentar. É encontrar o sujeito que existe para além das drogas e é necessário trabalhar em prol disto. Este desvelar de si mesmo representa um amadurecimento pessoal e emocional e, também, sabemos que para isto se realizar é importante o indivíduo estar neste momento e se preparando para tal. Sem dúvida deve levar em conta o momento de vida e disponibilidade do indivíduo em saber de si além das drogas. Enfim, este questionamento Quem é você sem a droga? É uma reflexão significativa, complexa e importante no campo das intervenções em álcool ou outras drogas e é necessário refletir se esta indagação é realizada e trabalhada. Esta reflexão se refere a subjetividade que, muitas vezes, é preterida em prol da categoria dependente químico e é fundamental conhecer e compreender a singularidade do sujeito.