sábado, 11 de maio de 2013

Manutenção da Abstinência...

Drogas: O sofrimento da manutenção da abstinência Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde - clafaje@hotmail.com No campo de álcool / drogas se foca a busca pela abstinência das mesmas, que é o rompimento abrupto do uso de substâncias psicoativas. Além desta via de tratamento há a redução de danos que visa reduzir os prejuízos de quem consome substância psicoativa para aqueles que não querem parar ou desejam reduzir o uso. Neste aspecto a redução de danos é uma estratégia de saúde que prioriza a escolha e a liberdade do sujeito, porém, não se exclui a abstinência, a qual pode ser uma busca para se atingir a mesma , mas o indivíduo não precisa estar abstinente para iniciar o tratamento e, ressalta-se que se preconiza as duas possibilidades. Dependendo da abordagem adotada, aprendida e vivenciada pelo indivíduo no seu tratamento ele terá a busca pela abstinência e a manutenção da mesma. O que é comum verificar é o sofrimento para manter a abstinência e como isto é sofrido pelas pessoas. No campo clínico a dificuldade não é se desintoxicar e sim é manter a abstinência. Ate se ouve que “a luta é diária” e, que apesar do maior tempo em abstinência o sofrimento continua sendo considerável. Sabe-se que o desafio é verdadeiro, porém, há muitos casos que se observa que, com o passar do tempo, estar abstinente do álcool/ drogas não é este sofrimento tão marcante pois o indivíduo aprende a lidar com a fissura, aprende a ter mecanismos de manejo, aprende ao auto monitoramento, aprende sobre si mesmo, aprende sobre prevenção de recaída, aprende a manutenção da abstinência, sem levar consigo, continuamente e automaticamente, o sofrimento. O indivíduo está em outro momento de seu processo de mudança e manutenção da abstinência e suas vicissitudes e, isto não quer dizer, necessariamente, estar em luta e em sofrimento. A manutenção da abstinência, entre outros olhares e interpretações, pode representar o estar estável, apesar dos obstáculos e desafios. Quando se ouve um ditado popular, “ você terá que lidar com esta doença, com este problema a vida toda”, soando que representará uma luta, um sofrimento e que irá carregar isto para o resto da vida”, fica refletindo sobre a representação social disto pois traz uma carga e o indivíduo se sente o eterno devedor, que terá que carregar esta cruz... Saindo deste olhar podemos pensar que o indivíduo escolheu se abster das drogas, buscou auxílio por isto, lidou com as recaídas, lidou com os altos e baixos, aprendeu alguns recursos par lidar com isto, entendeu a sua dinâmica com as substâncias psicoativas e está mantendo a abstinência, o que significa um novo modo de viver, um novo modo de enxergar a si mesmo e ao seu redor. Isto pode sim ter um cunho mais prazeroso pois foi um interesse da própria pessoa mudar de vida. Qualquer outra questão da vida, do cotidiano, aprendemos e desejamos algo que levamos como uma filosofia de vida, a qual vai ser mantida pois representa uma mudança de hábito, de comportamento e de sentimentos e isto é, também, se frustar, é dizer não para si, é deixar de comer o que gosta, por exemplo, é ter disciplina para manter aquilo que se deseja como algo importante na vida. Quando se refere a um peso de ter que lidar com ficar sem drogas se relaciona com o que será “para sempre”, no sentido da manutenção” e este ser para sempre também, soa como um peso e trago a seguinte reflexão: Quando se fala em se abster de substância psicoativa, fazer tratamento significa um auto cuidado, uma busca por uma qualidade de vida, uma forma de se viver que se considera boa e que será mantida e isto, necessariamente, também, será inserido no cotidiano como algo que já faz parte, onde haja prazer em manter isto e que seja o mais natural no modo de viver da pessoa. Então, quando se fala em tratamento é para o resto da vida, pode ser encarado como tudo aquilo que é importante ser cuidado é para o resto da vida também. Temos que cuidar diariamente da alimentação, do sono, das relações interpessoais, da saúde física, entre outros. Os cuidados é para o resto da vida, não como algo difícil de fazer ou de digerir pois já faz parte da filosofia da pessoa e do modo de viver, pois se refere a fatores que promovem saúde. A manutenção da abstinência da substância psicoativa é uma promoção de saúde e estes fatores devem ser alimentados e cuidados, diariamente. Salienta-se a importância da modificação do paradigma no campo da manutenção da abstinência de drogas em ser um peso de ser para sempre, de que é para o resto da vida, de que é sofrido ter que levar isto e não ser uma pessoa normal por isto. È interessante este novo olhar para esta questão pois se pode compreender como algo que o ser humano deseja manter um determinado comportamento e ele terá que fazer esta manutenção diária, mas não vista como mais um peso, mas como algo importante que já faz parte de sua vida. Saí do sofrimento da manutenção da substância psicoativa para ir por prazer, por disponibilidade, por interesse. Responsabilidade da manutenção é algo positivo pois favorece ainda mais a própria mudança cotidiana. Quando se fala que não há cura para drogadependência no sentido de ser para sempre, também, para todo o resto na vida, também, não tem cura pois será necessário o cuidado sempre, no dia a dia e é algo que não se acaba e sim será cuidado. Assim, ressalto que não se foca na questão da cura ou não, mas de que tudo que é humano é algo que é para o resto da vida de cada um e como cada um lida com isto. Tudo tem que se cuidar no dia a dia. Seja bem vindo o auto cuidado diário para que se construa e se vivencie o bem estar e a manutenção de uma vida com mais qualidade.

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