sábado, 17 de dezembro de 2011

Reflexão

A droga, na contemporaneidade, se tornou o bode expiatório social.
Que, voltemos o olhar para o indivíduo e a escuta para além do discurso pronto.
Conheça o outro para além das drogas.
Jesus, C. F. 2011.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Política sobre drogas: o que temíamos aconteceu....

O que temíamos aconteceu...Por Cláudia Fabiana de Jesus Em relação a política nacional acerca do álcool ou outras drogas o que temíamos aconteceu. Em 07 de dezembro de 2011 foi decretado pela Dilma Rousseff o Programa de combate ao crack o qual prevê internação involuntária de usuários, entre outras ações, apesar dos protestos e manifestações realizadas, nos quais se mobilizaram-se a favor da defesa dos direitos humanos e do tratamento em serviços abertos.
Partimos de um olhar não sobre as drogas mas, sobre o sujeito. A preocupação era validar propostas como financiamentos em comunidades terapêuticas em detrimento da ampliação de rede substitutiva, o incentivo as internações, o retrocesso a reforma psiquiátrica, entre outros. O governo não considerou a posição da IV Conferência Nacional de Saúde Mental-Intersetorial, realizada em junho de 2010, que decidiu pela não inclusão das comunidades terapêuticas ao Sistema Único de Saúde. O conselho Federal de Psicologia realizou, também, manifesto e se colocou no campo das drogas, que o usuário de drogas precisa de cuidado, atenção e dignidade e tratamento sem segregação.
Trago aqui uma reflexão para os profissionais que atuam nesta área, seja diretamente ou indiretamente: Perceba-se, em sua práxis, se você não está atuando do mesmo jeito que as diretrizes preconizam, diretrizes tão novas e ditas inovadoras, mas tão retrocessa, moralista, repressora e higienista, repleta de preconceitos, discriminação, um olhar de guerra às drogas e uma prática normatizadora.

Deveríamos ser mais críticos e cuidadosos em atuar a partir de um plano de ação por meio de um órgão federal ou órgãos de referência ou, mesmo, a partir de manuais científicos. Nem sempre o que se dita, ou se preconiza garante o direito, a saúde, a singularidade, a subjetividade e a dignidade.

As pessoas ficam seduzidas pelo investimento financeiro, do governo atual, frente às drogas e não são críticas no que serão aplicados. O questionamento não é no investimento econômico mas sim, quais as práticas a partir disto? Senão desta forma você se corrompe vendendo seu corpo e sua alma. Se pergunte: se preconiza uma política sobre drogas a partir de que paradigma? se direciona a partir de que referencia as questões ligadas ao uso de substâncias psicoativas? O que você compreende neste sentido? O seu foco é a abstinência, somente? O que realmente é tratar? Será que você, em sua prática, não busca normatizar, adaptar o sujeito, ou mesmo, não respeitar as escolhas do outro? Você está a serviço de quem? De números, das estatísticas ou de suas próprias expectativas?

Se questione: o que você vem fazendo no campo de intervenções em álcool e outras drogas?
Precisamos pensar e refletir pois há muita gente dizendo que há um caminho e todos nós precisamos nos juntar e seguirmos este tal caminho....E nele conseguiremos vencer a guerra contra o crack. O perigo é você acreditar nisto.... Não aceite tudo que te dizem, mesmo os que estão “ lá em cima”, ou nos lugares dos ditos saberes e quem constrói as leis....

Se liberte de verdades mentirosas.... Seja corajoso e faça o possível, nada mais que isto. Não estamos em guerra nenhuma. Estamos diante de uma sociedade que não quer enxergar o que as drogas vem nos dizer? O crack vem revelar algo sobre a sociedade que vivemos. O crack é um sintoma que não podemos largar, precisamos olhar e cuidar do que isto representa.

Apesar do que foi preconizado pelo plano nacional anti-drogas e anti- crack , já está aí, que você possa se indignar e repensar em sua prática para não reproduzir ações segregadoras, retrógradas, repressoras, preconceituosas, entre outras.

Cuidado que, para aquilo que você acredita que está colaborando, você poderá estar prejudicando, mesmo de maneira latente. Lembre-se dos limites, que faz parte de nosso cotidiano. Lembre-se da ética, a qual vai além dos manuais, mas acima de tudo, o respeito pelas diferenças e pela diversidade.

Apesar do que temíamos ocorreu, faça aquilo que acredita na sua práxis cotidiana.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Campo das drogas e possibilidades

Campo da dependência química: Evoluções, mudanças, reconstruções e novas possibilidades Por Cláudia Fabiana de Jesus - Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde Vivemos o fenômeno das drogas na sociedade atual. Vimos alguns discursos sobre a mesma com foco ainda no terrorismo, na destruição, no mal e, muitas vezes, na impossibilidade de cuidar disto e de se realizar mudanças. Há um imaginário social da não credibilidade nas mudanças quando se trata do crack. Vemos na mídia e nas “ verdades ditas” que não dá certo, o que não tem mais jeito, mostra somente o lado negativo, do que se falhou e das impossibilidades.
Vejo a partir de minha experiência neste campo, há onze anos, e acredito que deveria mostrar ou focar naquilo que está dando certo, em vez de focar patologias e no que parece impossível. As pessoas acabam acreditando que não tem mais jeito. Esta crença influência a própria pessoa e a sociedade como um todo. Há de se perguntar : o que se acredita nesta área? Qual é a referência de uma verdade sobre este assunto? Aquilo que eu acredito se torna verdade...
Há muitas verdades ditas que se tornam verdades absolutas. “A pessoa que entra no crack morre”, é uma frase que não pode ser generalizada, como qualquer coisa na vida, pois as pessoas são singulares, tem sua subjetividade. E neste campo se observa que ainda há muito generalização, padrão estabelecido de comportamento, receitas prontas para se seguir e idéias pré-concebidas sobre o assunto. As pessoas estão desesperadas e se fecham para novas maneiras de se indagar e , talvez nem queiram, pois preferem o conforto de uma resposta pronta do que novas perguntas as quais ainda buscarei respostas. Querem ainda que o outro diga o que ela tem que fazer para ser feliz.... querem ainda alimentar uma dependência....
Ainda é necessário mais espaços de reflexão, é fundamental que o próprio sujeito se autorize a pensar sobre si mesmo e se questionar. È necessário que haja um espaço vazio, um espaço de silencio para que a pessoa reflita e não é o que se vê. Há um enchorrada de verdades e discursos prontos sobre o indivíduo, onde ele é quem mais escuta ao invés de falar de si, não somente sobre o que ele sabe dele, mas ter espaço para descobrir sobre ele. E é ele quem fará por isto.
Vejo as pessoas deixando de usar crack, vejo as pessoas que desejam mudanças fazer, realmente, mudanças em sua vida. Vejo as pessoas deixando de ter relação com a droga e voltando a ter relação consigo mesmo. Vejo as pessoas vivendo suas metas e se percebendo além das drogas, álcool e mergulhando no processo do auto-conhecimento. Vejo mudanças nas vidas das pessoas, em meu cotidiano do trabalho, que cada vez me faz acreditar na capacidade do ser humano entrar em processo de transformação e superação. Transformação ate daquilo que lhe foi dito e, que realmente, para ele não está servindo mais. A evolução é caminhar para frente e não ficar preso a um contexto, a um grupo, a uma verdade, a uma pessoa. Evolução é a aprendizagem da maturidade emocional e da responsabilidade diante de uma nova maneira de viver e de interpretar a própria vida. Estamos falando de mudanças de vida e isto requer abertura ao novo, ao desconhecido e a flexibilidade de novos questionamentos sobre a própria vida e sobre si mesmo.
Pensando sobre isto me vem as experiências com pessoas que estão em mudanças. Eles diriam: Estou me conhecendo.... e isto é além de conhecer sobre uma patologia, sobre um modo de ser. Eu sou mais do que falaram sobre mim, sou mais do que uma categoria diagnóstica, sou mais do que comportamentos predeteminados, sou mais do que olham para mim. Sou um ser que busca e que avanço sobre mim... Sou uma pessoa que estou disposto a aprender sobre mim e assim, sou livre. Livre para sentir minhas emoções, se responsabilizar por elas e assumir minha singularidade na vida cotidiana.
No campo da dependência química há sim evoluções, desconstruções, mudanças e muitas possibilidades promotoras de saúde. E isto poderia ter peso, ser considerado não somente no que se refere ao tratamento mas, inicia-se a partir de uma visão sobre o próprio fenômeno das drogas. E partir de uma mudança de paradigma, de uma determinada visão e leitura se possibilita outras mudanças....
As mudanças se iniciam em nós.....