quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mudança Subjetiva na dependência química

Relato no tratamento em dependência química : mudanças subjetivas Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Este relato diz respeito a um atendimento com paciente com “ diagnóstico” dependência química, o qual está em tratamento. Este escrito revela mudança de posição subjetiva e assim, transformações do próprio paciente em relação à ele mesmo. De forma bem geral o paciente tem trinta anos e apresenta histórico do uso do crack. Retoma o tratamento e, no momento presente, está abstinente. Esboço alguns pontos do diálogo com o paciente: “Antes eu buscava motivação para párar de usar crack, buscava aqui, acolá, buscava em filho, nos pais, na namorada, em ganhar dinheiro, em ser alguém, enfim, a minha busca era constante, procurava a motivação fora. Assim sendo , neste período, eu lutava contra as drogas e a minha energia foi para este foco. Descobri, que para mim este não era a motivação, não era o caminho e por isto que eu não conseguia parar com o crack. Neste retorno ao tratamento a minha motivação não estava fora, nem estava em lutar para ficar sem o crack. A motivação emergiu dentro de mim no foco de ser mais feliz, de investir em mim, de me sentir bem e estar satisfeito comigo mesmo e assim, o crack perdeu o sentido. A minha motivação estava na vida e, naturalmente, a droga não tem mais espaço. Esta trajetória para mim teve mais sentido e assim, o importante não é a luta contra as drogas, mas a descoberta de si naquilo que tem sentido na vida para a própria pessoa” . Este relato retrata uma mudança subjetiva a qual reflete uma profundidade no que se refere a tratamento nesta área. O foco do paciente não foi se abster da droga mas voltar-se para si, encontrar um sentido em sua vida, saber o que gosta e assumir os seus desejos, suas escolhas com responsabilidade, independente da expectativa do outro. Logo que o paciente trabalhou em prol disto o sentido da droga se perdeu, não há porque mais utilizar substância psicoativa. Há o entusiasmo pela vida apesar das vicissitudes do existir. O paciente vai além da categoria de doente, se responsabiliza pela sua própria satisfação e seu modo de existir e se descobre para além das drogas. Ressalto que esta experiência é algo a ser compartilhado pois se percebe a possibilidade de mudanças subjetivas. A droga perde o sentido quando a vida ganha sentido. Quando o indivíduo se descobre, quando ele reconhece os motivos de seu uso de drogas, quando ele descobre outra coisa que ocupa o lugar da droga/ álcool ele não precisa mais utilizá-la. Que haja maior espaço de profundidade nas intervenções no campo das drogas.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pense nisto!

Não existe epidemia do crack. Existe uma epidemia de internações... Claudia Fabiana de Jesus Psicóloga clafaje@hotmail.com

sábado, 11 de maio de 2013

Reflexões....

Reflexões consideráveis no campo da dependência química Cláudia F. Jesus - Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde As experiências e vivências num determinado foco traz conhecimento, desenvolvimento no manejo de tal assunto, porém, acarreta desejo de ampliação acerca do tema e desejo por não se acomodar ou acostumar, procurando, frequentemente, novas perguntas. O compromisso com o novo, naquilo que não é comum é fundamental. É necessário olhar além do assunto que é conhecido e se indagar sobre o próprio tema, sobre os novos contextos, novas abordagens e, acima de tudo, se indagar sobre si mesmo na relação ao assunto. Como estou com o passar dos anos com este tema? O que é novo em algo que é comum para mim? A partir da contínua indagação, esta interrogação não me vem sem pensar no humano, no indivíduo que tem a relação com a substância psicoativa. O que representa esta pessoa? O que representa a atual sociedade compulsiva por diferentes necessidades criadas e tendo como utopia a sociedade do prazer. A representação de um sujeito que está inserido numa cultura que intolera o sofrimento psíquico e a elaboração do mesmo, que tudo pode e não sabe o que se quer, que há extremos vividos entre as faltas e os excessos, entre o nada e o tudo, entre desproteção e a superproteção,. Enfim, a droga, como está atualmente no nosso cotidiano, vem nos falar algo, vem nos revelar como a sociedade está, a qual é feita por pessoas. Precisamos ouvir, escutar o que este sintoma social vem gritar. Há um pedido de socorro e não percebemos. As relações humanas estão doentias e precisando ser cuidadas. O foco da dependência química não pode se resumir na química, na repressão, no tráfico, na patologia mas, é necessário ir além do que já se tem, do que já se sabe, ou do que se acredita saber. Considera-se a importância da contínua indagação sobre o homem atual, seu modo de viver na sociedade contemporânea e sua relação com as substâncias psicoativas, pois é inerente ao ser humano a complexidade e, que no meio desta caminhada não esquecemos da singularidade da pessoa e de sua subjetividade.

Motivação....

A motivação no processo de tratamento em dependência química Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Quando se fala em tratamento em dependência química é fundamental pensar sobre a motivação. Percebe-se que há um ideal nas intervenções em que o desejo do profissional que atua nesta área é de que as pessoas queiram se abster da substância psicoativa e estão empenhadas nisto. Muitas vezes não é isto o que acontece. O profissional está disposto a trabalhar em prol da mudança, bem como, a equipe profissional mas o paciente pode não estar neste momento. Por mais que isto seja um desafio é uma realidade que temos que lidar. É necessário que o indivíduo esteja motivado para iniciar o processo de tratamento ou que esta motivação se desenvolva ao longo das intervenções. A motivação é algo intrínseco e é subjetivo. Verifica-se, na prática profissional, que o paciente busca o tratamento quando há motivos significativos para o mesmo e esta motivação o estimula nas fases de seu tratamento. Observa-se que as pessoas precisam chegar em seu próprio limite e cada pessoa tem seu tempo, ritmo e momento, bem como, precisam querer mudar a forma como estão vivendo. O ser humano é um ser adaptável e até se adapta a viver em sofrimento, a continuar agindo mesmo tendo consequências negativas. Em muitos casos ele tem um ganho secundário na maneira como se vive ou algo o alimenta a agir deste maneira, mesmo se for algo destrutivo. È necessário que haja uma motivação em prol da mudança e a manutenção da mesma. Em cada momento do processo de tratamento o paciente precisa conhecer quais são suas maiores necessidades e em cada uma delas a motivação deve estar atuante. Sabe-se que a motivação oscila, se altera e é esperado que se tenha consciência da mesma e o que se precisa trabalhar para que se utilize da melhor forma. A motivação não é algo comportamental e sim é algo interno ao sujeito e para isto temos que compreender melhor os aspectos subjetivos do paciente, enfim, passa pelo processo de auto conhecimento. Cada um tem a sua motivação seja em diferentes áreas da vida e precisamos respeitar a motivação do outro. Muitas vezes projetamos nossa motivação no outro e não aceitamos quando o outro não está tão motivado. Exigimos que o outro esteja motivado para que nossa motivação se concretize, como num caso em que o profissional esteja motivado em tratar o paciente e este não tem este mesmo desejo neste determinado momento. Esta compreensão se faz necessário pois se refere ao amadurecimento no sentido das escolhas de cada um. Aprendemos sobre teorias de motivação, fases de mudanças motivacionais, porém, isto não basta na compreensão do ser humano. È preciso conhecer o próprio sujeito e é preciso ouví-lo além das teorias sobre motivação. È preciso que a nossa motivação seja compreensiva frente, muitas vezes, a desmotivação do outro e como lidamos com esta realidade. Você frente a desmotivação do outro também se desmotiva ? Assim sendo a motivação é um tema importante no campo de álcool ou drogas, mas também é importante na vida do indivíduo, de forma geral, porém, a forma como compreendemos acerca da motivação influencia nossas ações e nossas interpretações. Enfim, tome o cuidado como tem interpretado, usado e lidado com a temática motivação, pois muitas vezes o seu uso fica mais superficial e ele é mais complexo do que aparenta ser. O ser humano e suas vicissitudes vai além da motivação...

Confiança...

Abuso de substância psicoativa: Confiança e Auto confiança Claudia F. Jesus – clafaje@hotmail.com No que tange o abuso ou dependência de substâncias psicoativas sabe-se que o tema confiança é algo delicado e de forma geral, difícil de se resgatar. Nas questões envolvidas na dependência química a confiança no sujeito é algo que se perde ou vou além, será que teve alguma vez? Não iremos aprofundar nisto mas, vale a provocação. Focamos a perda da confiança quando a pessoa já está em processo de descontrole de si e do uso de substância. Os familiares, as pessoas ao redor e até mesmo profissionais podem desenvolver a perda de confiança no sujeito. Quando o sujeito opta por um tratamento ele reconhece a importância do resgata da confiança alheia e de retomá-la. È uma trajetória que requer persistência, paciência, mudanças de hábitos, comunicação, diálogo, autopercepção, entre outros. Realmente, muitas vezes, a pessoa volta a ter a confiança do outro ao seu redor e o trabalho será o da manutenção desta confiança. Verifica-se, que muitos pacientes se perdem nesta caminhada, apesar da confiança readquirida pois não sabe lidar com os impasses, com as dificuldades cotidianas e relacionais e com a pressão seja externa ou interna. Quando se percebe o indivíduo pode retornar ao uso de substância psicoativa ou ter uma recaída e lá se vai a perca da confiança, novamente. E o ciclo se repete. E cada vez mais a confiança fica distante de ser adquirido, vivido, sentido e até mesmo, desejado. Trago neste escrito não só questionamentos sobre a confiança e a perda da mesma pelos familiares e pessoas ao redor do usuário de substância psicoativa, mas é fundamental refletir sobre a própria pessoa que consome droga. Como ela lida com a confiança e a busca de retomá-la, mas ir além, como ela lida com a autoconfiança. Para falar da importância do indivíduo resgatar a confiança do outro é prescindível falar da própria confiança. Como pensar a auto confiança? Pode até mesmo as pessoas ao redor do indivíduo depositarem confiança nele e se ele não tiver a dele mesmo? A confiança alheia não se sustenta por muito tempo; ela não sobrevive. È necessário a auto confiança. O paciente precisa repensar se ele confia nele, se confia que pode parar com o uso de substância psicoativa, se ele confia que pode sair de uma recaída, se ele confia que pode resgatar a confiança do outro, enfim, se ele confia em si mesmo. Este trabalho deve ser anterior até mesmo em relação a ele querer a confiança do outro, se a dele mesmo ele não a tem. É necessário que este trabalho seja feito com o paciente pois se fala muito das dificuldades em reconquistar a confiança do outro e não se foca tanto na auto confiança do paciente. Assim sendo, considera-se fundamental o processo do paciente confiar em si mesmo pois é a partir de sua subjetividade que se transfere para o outro, para o externo. A auto confiança é algo importante no tratamento e nas evoluções do paciente em sua trajetória e na melhora de sua qualidade de vida. Seja bem vinda a auto confiança, o que não significa excesso de auto confiança. Ausência de auto confiança é algo que prejudica o indivíduo em seu processo de mudança. Acredita-se que a busca por um bem estar cotidiano está ligado diretamente a auto confiança.

Além da droga, qual outras droga?

Além da droga, substância química, há outras drogas? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Droga é um termo utilizado para definir substância psicoativa, a qual altera o funcionamento do sistema nervoso central e é um tema atual devido a seu aumento de oferta e de procura na sociedade contemporânea. Falamos tanto em drogas e seus efeitos e consequências, bem como, nas áreas de prevenção e tratamento. Droga, também é utilizado como um termo do senso comum e do cotidiano e pode estar ligado a tudo aquilo que não presta, tudo aquilo que não é bom e saudável, tudo aquilo que nos traz insatisfação, desconforto e mal estar. Assim sendo falamos muito desta droga no nosso cotidiano. No campo da dependência química se foca no tratamento o se abster da droga, o largar da droga, mas além disto é importante trabalhar sobre a importância de se largar outras drogas, não química, e trago esta reflexão. Além da substância química, que outras drogas você precisa abandonar? Voce já pensou quais drogas pertencem a seu cotidiano e que o que há de droga em sua vida? Que droga que atrapalha a sua vida? Ou a sua própria vida é uma droga? Há alguma pessoa que é uma droga na convivência? O seu trabalho é uma droga? O seu relacionamento está uma droga? O seu passado foi uma droga? Voce se acha uma droga? Os seus sentimentos estão uma droga? O seu sentido de vida está uma droga? O seu cotidiano é uma droga? A sua história é uma droga? Porque é tão difícil largar desta droga? Há muitas coisas negativas, destrutivas e ainda continuam fazendo parte de nossas vidas e muitas coisas não conseguimos abandonar. Há muitas coisas que a pessoa, até mesmo, tem uma relação de dependência e não consegue largar mesmo fazendo mal e trazendo prejuízos. Voce já buscou ajuda para isto? Ou focou somente na droga, substância psicoativa? É necessário entrar num processo de mudança e se abster da droga que existe na sua vida de forma geral. È importante deixar de ser uma droga para você mesmo. É necessário se abster daquilo que não nos auxilia na evolução humana. Algumas vezes se abandona a droga, substância psicoativa e ainda a vida pode continuar sendo uma droga, porque há (outra) droga que não foi abandonada. Muitas vezes a pessoa larga da droga, substância psicoativa, mas ainda não percebeu que ela continua sendo uma droga para si mesmo e, muitas vezes, se refugiava na droga, substância psicoativa, para não encarar outras áreas que são uma droga, seja representada por alguém, por uma circunstância, por uma situação, sentimento ou a própria vivência em si. É necessário perceber que a própria vida pode ser uma droga e é fundamental largar, se abster deste tipo de vida e para isto você, também, precisar se envolver num processo de mudança e precisa entrar em tratamento, enfim, se tratar melhor. Não há somente a droga, química, mas há droga como representante do que não é benéfico ao ser humano. Tudo aquilo que se refere a droga, de forma geral, é preciso repensar para que se trabalhe em prol do bem estar.

Aspectos Psicológicos....

Aspectos psicológicos: Eu os reconheço? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com O ser humano é um ser emocional. No campo da dependência química é fundamental a reflexão acerca dos aspectos psicológicos do sujeito. Muitas vezes, focamos os aspectos genéticos, sociais e preterimos os aspectos emocionais. É interessante refletir se o individuo tem ciência dos aspectos psicológicos e os reconhece, os quais precisam ser trabalhados. Na área de álcool ou drogas, em muitos casos, se tem resistência em aprofundar as questões emocionais, porém, os mesmos podem ser gatilhos para o uso de substância psicoativa. È indicado que as mesmas sejam trabalhadas. Esta tarefa não é tão simples assim pois o indivíduo necessita estar disposto para falar de seus aspectos emocionais. As reflexões seguem: Quais aspectos emocionais são importantes ser trabalhados? Tenho conflitos emocionais os quais influenciam no consumo de substâncias psicoativas? Quais minhas maiores dificuldades e meus conflitos? Há pessoas que não reconhecem que tem aspectos emocionais que não sabem lidar de uma forma construtiva e assim, lidam de maneira que surgem outras dificuldades e problemas e, aspectos psicológicos no tratamento em dependência química não trabalhados interferem no prognóstico. Assim sendo pontua-se que é necessário um investimento maior nos aspectos psicológicos e, muitas vezes, é indicado a psicoterapia individual. Observa-se que por mais que isto seja algo esperado, não se observa isto na prática. Verifica-se que muitas pessoas fazem acompanhamento psiquiátrico e não são encaminhados para a psicoterapia. Devido ao contexto da sociedade atual, vive-se a procura de respostas rápidas e mudanças de comportamento com o intuito de voltar o indivíduo ao padrão social e não há um espaço e disponibilidade para se trabalhar questões emocionais. O foco é mais o que é exterior, o que é observável e não se aprofunda nos aspectos subjetivos latentes. A reflexão deste escrito se refere a importância de se trabalhar os aspectos psicológicos no tratamento em dependência química, bem como, aprofundar nas questões emocionais do paciente.

Verdades Ditas

Consumo de drogas e verdades ditas Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com O consumo de drogas é um tema que mobiliza a sociedade e isto gera construções de saberes e conhecimentos tanto do campo do senso comum, do campo religioso e da área científica. Contudo, de forma geral, verifica-se que há verdades construídas que são absolutistas e são engesadas em si mesma. As verdades colocadas são ditas e reditas impedindo até mesmo novos questionamentos e novas perguntas. Estas verdades podem diminuir as angustias e incertezas de uma área tão complexa e desafiante quanto o uso de abuso de substâncias psicoativas. Esta temática nos traz a mobilização no sentido de estar aberto para novas indagações pois nos viciamos a dar as mesmas respostas e as mesmas ideias sobre o campo das drogas. Até mesmo há um padrão de caminhos a seguir que expressam verdades prontas, como se pudéssemos comprar a cura, como se pudéssemos comprar a solução e como se pudéssemos ter o direito de modelar o ser humano para ele não usar drogas... Ate que ponto, por verdades prontas, invade-se o espaço do outro, a responsabilidade do outro e se dita um saber acerca do outro, desconsiderando a próprio saber do sujeito sobre si mesmo. As verdades prontas ditas por alguém que está no lugar da verdade, do saber, da moral, do certo, do controle, não abre o espaço para a pessoa falar de si, de suas ideias sobre o seu próprio sofrimento ou adoecer, enfim, as verdades ditas impedem que o paciente se coloque. Estas verdades ditas impedem que o sujeito seja indivíduo, ele se assujeita a uma verdade alheia. Em tratamentos para dependência química que a verdade absoluta é o ponto chave não se vê a singularidade do sujeito. Trago a reflexão acerca de nossas praticas pois sem perceber podemos estar atuando com verdades prontas. Quais verdades você tem como escudo e a impede emergir suas angustias, inseguranças, medos e incertezas de um fenômeno complexo que não são as drogas, mas o próprio ser humano. Quando no reportamos as drogas, o álcool as dificuldades nesta área estamos falando do ser humano. Não há verdades prontas sobre o ser humano. Quais verdades você acredita, que ao invés de estar auxiliando o indivíduo no seu processo de tratamento e evolução está o alienando e o engessando e mais, até mesmo, escravizando-o em verdades prontas. Verifica-se que a sociedade está perdida neste âmbito e até pode preferir ter respostas prontas, caminhos padronizados do que aceitar que ainda há muito o que construir nesta área, há muito o que se questionar e modificar as próprias ideias pré-concebidas sobre o tema. Não irei trazer estas verdades prontas pois não quero reproduzi-las aqui, mas é um convite para tal questionamento: Será que realmente esta verdade serve para aquela pessoa ou é mais uma verdade que você acredita e quer que o outro acredite também?! Não estou dizendo que as pessoas não podem utilizar algumas coisas parecidas, do outro, aprender com o outro, considerar o que os profissionais falam, mas precisamos auxiliar o indivíduo a ser a referencia de sua própria vida, a ser a referencia de seu processo de mudança e não criar dependência de uma verdade absoluta. O ser humano é um ser em movimento, em mudança, algo inerente a vida humana, mudanças estas internas e externas. Há verdades aprendidas que impedem o indivíduo de se desenvolver, porém, alguns pagam este preço em nome de certezas. Outros preferem construir as suas mudanças, abertos a novas perguntas e questionamentos, continuando aprendendo, criando e reiventando.

O que eu acredito ?

Consumo de substâncias psicoativas: O que eu acredito se torna verdade Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde A práxis com pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas traz protocolos de atendimentos, traz uma série de ações pré-estabelecidas e intervenções específicas, mesmo considerando a subjetividade. Além do que já está preconizado em tratamentos de qualidade trago uma reflexão. Há de se questionar com a pessoa o que se acredita, neste momento de sua vida? Em atendimentos, seja em grupo ou individual, se observa que há pessoa que até, estão motivadas para o tratamento, porém, acreditam no que ouviram dos outros, que não conseguirão se abster das drogas/ álcool. Se o indivíduo não acredita que poderá largar, realmente, esta verdade se torna real e a própria pessoa, inconsciente ou não, pode boicotar qualquer evolução e mudança, ficando realmente sujeito da droga. È preciso sobre o que a pessoa acredita em seu processo de tratamento, processo de mudança. Há muitas ideias e crenças sociais, como “ quem é viciado não tem jeito”, “ quem é viciado não larga das drogas”, “ A pessoa drogado ira ser sempre a mesma”, enfim, já uma desesperança e uma descrença de que o indivíduo pode se abster da substância psicoativa e viver uma vida sem precisar utilizá-la. Contudo, os usuários de substâncias acabam aceitando algumas crenças, ate algumas ditas científicas, junta com a sua mesma, que muitas vezes, é negativa e pessimista e, realmente, não se consegue se abster da droga/ álcool. O que refletimos é que o que se acredita se torna a verdade e o indivíduo fará de tudo para prová-lo. Nas intervenções com pessoas que consomem drogas/ álcool é preciso trabalhar acerca do que se acredita e isto pode não estar no nível da consciência e sim, no campo inconsciente. É interessante ter ciência de suas verdades pois nem sempre elas são tão claras. Muitas vezes, queremos algo mas não acreditamos que queremos ou aprendemos a não acreditar, ou mesmo, há outras crenças sobre aquele determinado tema/ assunto. No campo das drogas é comum o indivíduo procurar ajuda mas pode haver uma descrença que se pode viver sua vida sem usar substância psicoativa. È colocado que é dificílimo isto acontecer e o indivíduo quando usa droga/ álcool já tem um destino pré-estabelecido. Isto pode ser assimilado e a própria pessoa acredita que ela terá que “ lutar para sempre” e o destino dela sempre será a droga mesmo que ela não usa mais, mas sempre terá que lutar, então a droga permanecerá, embora seja a negativa dela. Diferente de uma concepção de que a pessoa compreende a própria dinâmica, trabalha os aspectos importantes, elabora e encontra outros recursos para viver a própria vida e assim, não precisa lutar, e sim vive de outro modo. É difundido algumas ideias e verdades e, reforço a importância de se questionar quais são e como elas fazem parte de seu cotidiano, de sua vida e de seu processo de mudança. É importante, frequentemente, refletir sobre o que se acredita, pois é a partir disto que as verdades “subjetivas” se tornam verdades. Quais são as suas verdades? Cuide bem delas pois as mesmas tem um poder significativo.

Trair....

Dependência de drogas e a representação da traição Claudia Fabiana de Jesus - Psicóloga – clafaje@hotmail.com Podemos pensar a dependência de drogas por diversos viés. Irei apontar refletindo sobre a relação do sujeito com a droga, que em muitos momentos e fases podemos falar de uma relação de paixão. Paixão no sentido de não pensar antes de agir, de ser algo desenfreado, sem medidas e sem consequências, no mesmo campo da cegueira. Paixão, vem do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil, é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio. Embora estejamos falando de algo que pode puxar o indivíduo como um ímã, não se tira a responsabilidade do sujeito que busca a droga , sendo esta é uma escolha, o qual tem suas consequências. A relação da pessoa com a droga acaba sendo uma relação amorosa, que muitas vezes, nada entra no lugar, só existe o indivíduo e a droga. Neste aspecto verifica-se uma relação de prazer, tirando os pontos de prejuízos, onde não se entrega sem pensar. È interessante compararmos com a relação amorosa, pois a sensação é no corpo, o prazer buscado na via corpórea , não há uma mediação, a busca pelo prazer é imediata e auto erótica. Em psicanálise usamos a palavra gozo e, assim o objeto de gozo do indivíduo é a droga. A relação com outro ser humano traz mais impasses, dá mais trabalho porque o outro é ser humano que pensa diferente, tem outros desejos e assim, a relação com o outro é dual, e requer mudanças em si mesmo. Com a droga, seu objeto de preferência, o sujeito tem o prazer em si mesmo. È interessante nos relatos pois a pessoa vai com a droga para um motel ou hotel. Se deixa de se relacionar com uma pessoa, não tem o foco na relação sexual com outro ser humano e tem com a droga. Se deixa de investir nos relacionamentos e se gasta com a droga, se deixa de investir tempo com uma namorada, por exemplo e se investe tempo na droga e ate no tempo de se recuperar da mesma. O investimento vai para a droga e deixa de ser para uma pessoa. Nesta aspecto quando o indivíduo dependente de drogas tem um relacionamento conjugal de há uma traição pois se troca a companhia, se troca tempo, se troca a relação sexual, se troca a pessoa pela droga e se caracteriza por traição porque se mente para ir usá-la, se mente para enganar o outro, enfim, a pessoa se sente enganada, traída. Além deste ponto da relação do indivíduo com a droga e exclusivamente nesta simbiose, podemos pensar na relação do indivíduo com ele mesmo, pois o prazer está em si mesmo a partir do efeito da droga. Excluindo os pontos negativos, a pessoa escolhe gastar o dinheiro consigo mesmo. Ela deixa de assumir os compromissos alheios, com os demais ao seu redor, deixa de investir no relacionamento, deixa de passear, de viver outras sensações e momentos, enfim, ela pensa nela, somente nela. Esta forma de se relacionar consigo mesmo se torna um sentimento egoísta, o qual se preocupa somente consigo mesmo e seu interesse. Assim sendo no campo conjugal, o usuário compulsivo por drogas muitas vezes troca a outra pessoa pela substância psicoativa, caracterizando sentimentos de traição. Neste aspecto o importante é como lidar com isto, quais os limites de cada um e o que cada um manterá ou mudará. Muitas vezes se quer mudar a relação mas não há mais relação com a pessoa e sim com a droga. A questão é o que o que fazer diante deste dilema e quais serão as escolhas a partir disto.

Novas Possibilidades de Compreensão......

Dependência química: Novas possibilidades de compreensão Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com A questão do uso de álcool e drogas se altera a partir da evolução e das mudanças da sociedade. Os conceitos são transformados conforme padrões vigentes da época, bem como, a conceituação sobre saúde e doença. Ainda, atualmente, há uma compreensão moral e preconceituosa sobre a questão das drogas, porém, já há evoluções neste sentido. Temos muito marcante uma compreensão de doença, voltado a partir do senso comum e se trabalha em um padrão igualitário e normatizador as pessoas. Por meio de pesquisas científicas e avanços no campo do conhecimento científico há a compreensão patológica a partir de manuais de diagnósticos, focando um modelo biomédico. Neste se observa a prioridade nas questões genéticas, neurológicas e cerebrais, com ênfase na medicação. O foco se centra no cérebro. Uma compreensão além desta se refere ao modelo biopsicossocial em que não há primazia da doença e das questões cerebrais mas sim as influências de demais áreas como social, psicológica, enfim, há outros campos importantes a serem investigados e trabalhados na complexidade das drogas e do ser humano. Neste aspecto a equipe profissional é fundamental e se destaca o trabalho interdisciplinar. Ainda é um desafio, porém, se observa o avanço nesta compreensão. Podemos ir um pouco além deste modelo, considerando sim o modelo biopsicossocial, porém, focando mais os aspectos singulares do sujeito, bem como, sua subjetividade. Assim, não há um padrão de atuação comum para os pacientes pois sabe-se que a singularidade deve ser considerada e será construída intervenções específicas para cada caso. Cada pessoa tem uma história particular e o tratamento se dá a partir desta consideração e é construída, conjuntamente, com o paciente. Não há um padrão rígido a seguir mas intervenções e ações que promovam saúde no cotidiano do paciente. A compreensão se desloca da doença, da patologia, do determinismo para a promoção de saúde, para as escolhas e para a responsabilidade e para a singularidade e a subjetividade. Ressalta-se a importância de ampliar novas possibilidades de compreensão acerca das drogas, suas vicissitudes e o ser humano. Para esta possibilidade é importante que a pessoa esteja aberta a novos questionamentos e reflexão não somente na área técnica da dependência química mas uma reflexão da própria sociedade, uma reflexão das mudanças do contexto contemporâneo, uma reflexão acerca do próprio conceito de saúde e de doença, uma reflexão acerca das ideologias atuais, enfim, uma reflexão do próprio ser humano. Acredito que nossa compreensão sobre um determinado assunto vai evoluindo com o tempo porque temos a capacidade de amadurecer, aprender e transformar. Acredito que se percebe que as compreensões sobre a temática dependência química estão presentes no cotidiano e nas ações das pessoas. O que trago aqui é o questionamento sobre quais suas compreensões nesta área e se você tem se permitido ampliar suas compreensões. Esta atitude representa liberdade e que sejam bem vindas novas compreensões.

Drogas: A primazia do orgânico sobre outras áreas...

Dependência química: Porque somente química? A primazia do físico- orgânico: Claudia F. Jesus – Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde – clafaje@hotmail.com A dependência química é uma questão presente no processo de saúde e doença e é descrito nos manuais e sabe-se que o conceito vem se alterando com o passar do tempo, de acordo com as mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outros e depende do contexto histórico. No momento, se observa uma mudança de paradigma do modelo biomédico para o modelo biopsicossocial, porém, isto se vê mais na teoria do que na práxis. No modelo biomédico se priorizava os aspectos biológicos, orgânico, anatomo-fisiológico em detrimento de outros aspectos da vida humana. Neste modelo o médico é a figura central em que se encara o ser humano como uma máquina que está disfuncional e ele tem a função de reorganizá-la. Aqui o paciente é passivo e o foco era a institucionalização, tendo como ponto fundamental a internação. No modelo biopsicossocial a saúde é algo mais amplo e complexo, que não depende única e exclusivamente de uma questão biológica. Tornou-se inegável a relação que existe entre os fenômenos saúde/doença e os fatores psicológicos, sociais, políticos, econômicos e ambientais. O processo saúde/doença está diretamente relacionado à própria complexidade e singularidade do viver do ser humano e da subjetividade. A abordagem exigida para a dependência química é coerente com o modelo psicossocial de saúde em foco na atualidade. Discute-se não só as questões orgânicas e psicológicas envolvidas, mas também os aspectos sociais, políticos, econômicos, legais e culturais inerentes a esse fenômeno. Apesar de ser preconizada a concepção biopsicossocial se observa discursos biomédicos e, ate mesmo, se reproduz nas falas dos profissionais , o que advem de manuais estatísticos, descritivos que são padrões médicos a serem seguidos. È necessário repensá-los pois este não contempla a visão biopsicossocial e, se fala que a dependência química é uma síndrome pois não tem somente uma causa e, portanto é multifatorial. Há de se perguntar a importância de se rever ate mesmo a terminologia dependência química, pois ela tende a questão bioquímica, por mais que acreditamos que este não é só o ponto, está na sua terminologia. Atualmente, ate em outras patologias se reflete sobre suas conceituações e qual o uso da mesma, além da reflexão sobre o próprio diagnóstico. Existe um interesse social que o sofrimento humano se torne doença pois assim, se constrói medicamentos, aumentando lucros e interesses de uma categoria. Chega-se ao ponto de ver uma sociedade afeita a drogas prescritas pelos médicos. Porque dependência química? O foco aqui está na substância química, na questão cerebral e até já ouvir o absurdo que “ dependência química é uma doença cerebral”, tirando a subjetividade e a responsabilidade do indivíduo. È necessário refletir sobre esta tendência forte, massificante e dominadora. A droga não pode se tornar o bode expiatório social. Que possamos ir além deste discurso e encontrar um sujeito para além de uma substância química. È necessário repensar a condição humana na sociedade contemporânea.

Manutenção da Abstinência...

Drogas: O sofrimento da manutenção da abstinência Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga e Mestre em Psicologia da Saúde - clafaje@hotmail.com No campo de álcool / drogas se foca a busca pela abstinência das mesmas, que é o rompimento abrupto do uso de substâncias psicoativas. Além desta via de tratamento há a redução de danos que visa reduzir os prejuízos de quem consome substância psicoativa para aqueles que não querem parar ou desejam reduzir o uso. Neste aspecto a redução de danos é uma estratégia de saúde que prioriza a escolha e a liberdade do sujeito, porém, não se exclui a abstinência, a qual pode ser uma busca para se atingir a mesma , mas o indivíduo não precisa estar abstinente para iniciar o tratamento e, ressalta-se que se preconiza as duas possibilidades. Dependendo da abordagem adotada, aprendida e vivenciada pelo indivíduo no seu tratamento ele terá a busca pela abstinência e a manutenção da mesma. O que é comum verificar é o sofrimento para manter a abstinência e como isto é sofrido pelas pessoas. No campo clínico a dificuldade não é se desintoxicar e sim é manter a abstinência. Ate se ouve que “a luta é diária” e, que apesar do maior tempo em abstinência o sofrimento continua sendo considerável. Sabe-se que o desafio é verdadeiro, porém, há muitos casos que se observa que, com o passar do tempo, estar abstinente do álcool/ drogas não é este sofrimento tão marcante pois o indivíduo aprende a lidar com a fissura, aprende a ter mecanismos de manejo, aprende ao auto monitoramento, aprende sobre si mesmo, aprende sobre prevenção de recaída, aprende a manutenção da abstinência, sem levar consigo, continuamente e automaticamente, o sofrimento. O indivíduo está em outro momento de seu processo de mudança e manutenção da abstinência e suas vicissitudes e, isto não quer dizer, necessariamente, estar em luta e em sofrimento. A manutenção da abstinência, entre outros olhares e interpretações, pode representar o estar estável, apesar dos obstáculos e desafios. Quando se ouve um ditado popular, “ você terá que lidar com esta doença, com este problema a vida toda”, soando que representará uma luta, um sofrimento e que irá carregar isto para o resto da vida”, fica refletindo sobre a representação social disto pois traz uma carga e o indivíduo se sente o eterno devedor, que terá que carregar esta cruz... Saindo deste olhar podemos pensar que o indivíduo escolheu se abster das drogas, buscou auxílio por isto, lidou com as recaídas, lidou com os altos e baixos, aprendeu alguns recursos par lidar com isto, entendeu a sua dinâmica com as substâncias psicoativas e está mantendo a abstinência, o que significa um novo modo de viver, um novo modo de enxergar a si mesmo e ao seu redor. Isto pode sim ter um cunho mais prazeroso pois foi um interesse da própria pessoa mudar de vida. Qualquer outra questão da vida, do cotidiano, aprendemos e desejamos algo que levamos como uma filosofia de vida, a qual vai ser mantida pois representa uma mudança de hábito, de comportamento e de sentimentos e isto é, também, se frustar, é dizer não para si, é deixar de comer o que gosta, por exemplo, é ter disciplina para manter aquilo que se deseja como algo importante na vida. Quando se refere a um peso de ter que lidar com ficar sem drogas se relaciona com o que será “para sempre”, no sentido da manutenção” e este ser para sempre também, soa como um peso e trago a seguinte reflexão: Quando se fala em se abster de substância psicoativa, fazer tratamento significa um auto cuidado, uma busca por uma qualidade de vida, uma forma de se viver que se considera boa e que será mantida e isto, necessariamente, também, será inserido no cotidiano como algo que já faz parte, onde haja prazer em manter isto e que seja o mais natural no modo de viver da pessoa. Então, quando se fala em tratamento é para o resto da vida, pode ser encarado como tudo aquilo que é importante ser cuidado é para o resto da vida também. Temos que cuidar diariamente da alimentação, do sono, das relações interpessoais, da saúde física, entre outros. Os cuidados é para o resto da vida, não como algo difícil de fazer ou de digerir pois já faz parte da filosofia da pessoa e do modo de viver, pois se refere a fatores que promovem saúde. A manutenção da abstinência da substância psicoativa é uma promoção de saúde e estes fatores devem ser alimentados e cuidados, diariamente. Salienta-se a importância da modificação do paradigma no campo da manutenção da abstinência de drogas em ser um peso de ser para sempre, de que é para o resto da vida, de que é sofrido ter que levar isto e não ser uma pessoa normal por isto. È interessante este novo olhar para esta questão pois se pode compreender como algo que o ser humano deseja manter um determinado comportamento e ele terá que fazer esta manutenção diária, mas não vista como mais um peso, mas como algo importante que já faz parte de sua vida. Saí do sofrimento da manutenção da substância psicoativa para ir por prazer, por disponibilidade, por interesse. Responsabilidade da manutenção é algo positivo pois favorece ainda mais a própria mudança cotidiana. Quando se fala que não há cura para drogadependência no sentido de ser para sempre, também, para todo o resto na vida, também, não tem cura pois será necessário o cuidado sempre, no dia a dia e é algo que não se acaba e sim será cuidado. Assim, ressalto que não se foca na questão da cura ou não, mas de que tudo que é humano é algo que é para o resto da vida de cada um e como cada um lida com isto. Tudo tem que se cuidar no dia a dia. Seja bem vindo o auto cuidado diário para que se construa e se vivencie o bem estar e a manutenção de uma vida com mais qualidade.

Quem Sou Eu Sem a Droga?

Quem sou eu sem a droga? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com No que tange o sujeito e a dependência química é comum o indivíduo se misturar com a droga e se definir como um “dependente químico”. Ele pode perder sua identidade e a mesma se transformar na identidade do “drogado”, “do dependente químico”. Também é comum verificar esta leitura até mesmo pelos profissionais e pessoas que trabalham nesta área. È importante que a pessoa tenha consciência de sua relação com a substância psicoativa e buscar intervenções, porém, é malefício ela se resumir numa categoria. A pessoa tenta se achar na dependência química mas pode se perder de si mesmo. Muitas vezes, já está perdida de si e se achando na dependência química acredita que se encontrou. Nem sempre isto é saudável e até que ponto isto se desenvolve, se estagna e é importante refletir. A pessoa, muitas vezes, não sabe mais falar de si sem falar da droga. Isto por um tempo é considerável, porém, se observa o avanço quando o paciente sai de um discurso pronto e acabado e constrói o seu próprio discurso e pode se encontrar com a própria subjetividade. As vezes, isto é alimentado pelos cuidadores e reforça ainda mais o rótulo. È algo de se pensar o uso de um “ diagnóstico”, a infuência deste na vida do paciente e o manejo disto. É fundamental ter o espaço para se refletir sobre o indivíduo sem a droga (álcool) no sentido dele questionar a si mesmo, se perguntar de si. Não é uma tarefa simples pois atuamos no automatismo e somente no discurso da patologia, porém, é necessário ir além. Quem é você sem droga? Quais são suas características? Quais são suas emoções? Como é você na sua singularidade? Quais são suas dificuldades e facilidades? Como é a sua história? Quais são seus interesses? Como você vive a sua vida? Do que você gosta e não gosta? Como é fazer parte de sua família? Quais são os seus medos? Quais são suas escolhas? Como você se vê? O que você deseja? Assim sendo, é considerável possibilitar o indivíduo a entrar em contato com seu eu e com sua subjetividade. O indivíduo não pode se resumir no uso de substância psicoativa pois ele é mais complexo que isto e está para além disto, apesar de muitas vezes não aparentar. É encontrar o sujeito que existe para além das drogas e é necessário trabalhar em prol disto. Este desvelar de si mesmo representa um amadurecimento pessoal e emocional e, também, sabemos que para isto se realizar é importante o indivíduo estar neste momento e se preparando para tal. Sem dúvida deve levar em conta o momento de vida e disponibilidade do indivíduo em saber de si além das drogas. Enfim, este questionamento Quem é você sem a droga? É uma reflexão significativa, complexa e importante no campo das intervenções em álcool ou outras drogas e é necessário refletir se esta indagação é realizada e trabalhada. Esta reflexão se refere a subjetividade que, muitas vezes, é preterida em prol da categoria dependente químico e é fundamental conhecer e compreender a singularidade do sujeito.

Experiência profissional...

Experiência no campo das substâncias psicoativas. Trabalho com esta temática oficialmente há treze anos.Sem falar de minha vivência na pré-adolescência com meu tio paterno no trabalho de prevenção nas escolas. Falar disto está ligado à minha profissão e as minhas escolhas neste campo. Estas escolhas são repletas de dedicação, buscas, empenho e acima de tudo, amor. . Trabalhar com a temática drogas é algo que traz diversos questionamentos: motivos, medo, receio, admiração, incertezas, impotência, tabus, derrotas, coragem, causa, saúde pública e tantos outros. Estar trabalhando com isto me remete ao enfrentamento da realidade e desafios. Este tema faz parte de nossa realidade e somos responsáveis em contribuir para o enfrentamento da temática de forma mais madura, menos simplista e muito mais aberto a novas perguntas do que a busca de respostas já pré-determinadas. Temos que ter a ousadia de ampliar nossa visão sobre as drogas e mudar nossos paradigmas, o que nos remete a quebrar as próprias ideologias e as idéias preconcebidas. Temos que ter a simplicidade de saber que muitas vezes não sabemos o que fazer, mas a busca por ela permanece. Temos que ter a capacidade de segurar o sofrimento do outro, ate que ele possa descobrir a sua própria capacidade disto. Temos que respeitar o ritmo e o tempo do outro, sem apressá-lo com nossas angústias. Temos que olhar para o outro e sentir que ele é responsável por ele mesmo e confiar nisto. Temos que ter uma estrutura que segura, acolhe e apóia nas recaídas, nos momentos difíceis em que muitos desistem, mas você está com o outro para que ele não desista dele mesmo. Temos que dizer menos o que outro deve fazer e saber ouvir mais para que ele mesmo possa exercitar isto na própria vida. Temos que admirar as pequenas conquistas, que muitas vezes devem ser encaradas como grandes vitórias. Temos que cultivar uma relação de empatia e de respeito mútuo. Temos que auxiliá-lo a enfrentar a si mesmo, valorizando suas qualidades e assumindo suas limitações. Temos que aceitar que é necessário perder algumas coisas para se ganhar outras. Temos que ajudá-lo a encontrar novas alternativas, a busca de novos prazeres e novas maneiras de lidar com os problemas. Temos que acolher o choro e estar junto para que se encontre o sorriso. Temos que olhar para a pessoa e não para a droga. Temos que focar a saúde e não a doença. Temos que estar junto na caminhada do outro, sabendo que há momentos que haverá muito cansaço e obstáculos e assim, auxilia-lo a não desistir. Temos que saber que poderá haver algumas más escolhas, alguns escorregões e que não é preciso jogar tudo o que se conquistou no lixo e achar que tudo não valeu a pena. Temos que aceitar que os outros tem as próprias escolhas e auxilia-los a lutar por isto, tendo como ponto básico, a responsabilidade. Temos que contribuir para que a pessoa se encontre além da droga. Temos que acreditar na mudança do ser humano. Temos que ser gratos aos outros pelo tanto que também nos ensina. Temos que auxilia-lo a acreditar em si novamente, mesmo que muitos não façam mais isto. Temos que contribuir para a importância do estabelecimento da ética humana. Temos que zelar pela verdade do outro e aprender a valoriza-la, mesmo que ela venha por meio de uma mentira. Temos que ouvir para além do que é falado. Temos que preservar a vida e isto se reflete nas relações com as pessoas e assim, auxiliar na busca de uma melhor convivência consigo mesmo e com os outros. Temos que cuidar da auto estima e fazer escolhas melhores. Temos que contribuir para que se busque contemplar a vida, ao invés de ficar somente pensando sobre a vida. Temos que ampliar a conscientização de que a saúde, de forma geral, esta nas mãos de cada um. Saliento que fazemos parte da história do outro e de que uns mais outros menos, influenciamos e somos influenciados na convivência humana. Sou muito grata por isto. Cláudia Fabiana de Jesus

Psicoterapia....

O Barato da Psicoterapia Claudia Fabiana de Jesus - Psicóloga/ Mestre em Psicologia da Saúde - clafaje@hotmail.com Se ouve falar com frequência o “barato” que o uso de drogas possibilita. È comum ouvir o indivíduo expressar que teve um barato, que as drogas dão barato. De forma geral, esta conceituação se refere fazer a cabeça, ficar bem, ter um prazer excepcional, ficar louco, enfim, se sentir bem... Muitas vezes, o indivíduo não conhece outros caminhos ou outras maneiras de sentir “ barato” na vida. Nada na vida dele gera um certo barato, embora saibamos que há outras possibilidades de sentir boas sensações, como na área de esporte, cultura, lazer, motivações, trabalho, relacionamentos afetivos, espiritualidade, aventuras, filosofia, escrita, diálogo, entre infinitas tantas outras. Neste escrito trago, especificamente, o barato da Psicoterapia. O espaço de análise permite o processo de auto conhecimento e remete a um barato pois se descobre que você é único e que sua felicidade depende muito de você. O barato de falar o que se pensa e o que se sente e ter alguém que o compreende, simplesmente, por compreender... O barato é voltar a se olhar e aprender a se respeitar mais.... O barato é estar aberto a novos desafios e as condições de erros e falhas... O barato de sair de um processo de auto punição e reconstruir uma outra auto imagem... O barato de voltar a ter sonhos e metas.... O barato de aprender a lidar com o não e a elaborá-los. O barato de assumir sua singularidade e o seu modo de ser no mundo.... O barato de conhecer e respeitar os próprios limites... O barato de desapegar do outro e sair do controle alheio....O barato de desconstruir um trauma, uma marca e fazer algo com isto.... O barato de assumir as próprias escolhas... O barato de se curtir e de escolher coisas boas para si...O barato de olhar para a vida de forma mais leve, o barato de aprender a exigir de você o que você pode dar. O barato de conviver com as angustias e o vazio existenciais,... O barato de deixar de se queixar e de ser vítima... O barato de se responsabilizar pelo cotidiano....O barato de correr riscos.....O barato de olhar para a natureza e se sentir parte dela. O barato de aprender a silenciar a mente.... O barato de não ter vergonha de ser feliz... O barato de não ligar para que os outros dizem...O barato de ser independente emocionalmente. O barato de expressar as próprias emoções e senti-las em sua totalidade... O barato de estar feliz e não precisar dar explicação para nada... O barato de se sentir em paz e renovar os sentidos da própria vida... O barato de estar aberto ao novo e as novas aventuras da vida. O barato da aceitação dos ensinamentos da vida... O barato de não esperar a felicidade do outro e cultivar a sua... O barato de resignificar momentos de crise, situações de tragédia... O barato de não ter medo de viver, nem de morrer... O barato de contemplar a existência... Diante do exposto salienta-se que a experiência com a Psicologia pode fazer o indivíduo sentir um certo “ barato”. Este barato não é comprado ou estimulado por substâncias psicoativas, ele é construído a partir do próprio desejo humano e do envolvimento com as próprias mudanças. Este barato se paga um preço alto, não no sentido monetário ou até é, mas foca-se no sentido emocional pois requer que a pessoa mobilize os seus aspectos subjetivos e psicológicos. Se faz presente a reflexão acerca de se abster de “ baratos”, até então conhecidos, para buscar novos baratos. Trago o convite para vivenciar o barato na Psicoterapia... Se entregue a psicoterapia e descubra novas sensações.

Palestras sobre "Drogas" Repense!

O que se reproduz nas palestras sobre dependência química? Claudia Fabiana de Jesus – Psicóloga – clafaje@hotmail.com A dependência química é algo, hoje em dia, debatido com mais frequência. Há muitas pessoas engajadas nesta temática e, participamos de diversas palestras nesta área. O que se observa que é comum são palestras cujo foco aborda a dependência química como algo engessado, “pronto”, com discurso normatizador sendo expressado em um show de oralidade, com fala ate bem animada, com tom motivador mas, o conteúdo é o mesmo há muito tempo. Alguns mais cuidadosos, trazem dados científicos para ilustrar suas palestras, dando ar mais sério, saindo do senso comum mas preso as ideologias da ciência contemporânea e da visão biomédica. Outros colocam a vaidade própria na sua apresentação querendo mais falar de si do que falar da palestra ou focando mais para mostra resultados. Mas, na prática não se tem metodologia adequada para realmente avaliar os resultados de uma práxis. O que se vê, também, é uma busca por trazer soluções pessoais ou institucionais e, muito raro palestra que traga mais questionamentos e análise crítica. Talvez, seja porque é angustiante a complexidade do “campo” das drogas e construímos ideias que nos mantém com certo grau de certeza. Outros repetem palestras falando de suas experiências, as quais são exemplos a seguir, sem que se questione a existência da singularidade e a importância da escuta para o outro. Outros repetem palestras com o intuito de ensinar como deve ser a partir de um padrão, um script. Falando nisto, eu estava numa destas palestras e uma colega, sentada ao lado, mal sabendo o que eu estava pensando, me disse: “...Nossa! Fui numa palestra deste palestrante e ele falou as mesmas coisas, as mesmas frases, as mesmas brincadeiras, nada mudou...” Sabemos que o ser humano monta para si uma fala pronta seja em sua vida pessoal, cotidiana e ate mesmo na vida profissional. Mas, há a necessidade de sair disto pois o ser humano tem capacidade criativa, capacidade de renovar, de rever as próprias construções, de criar novas perguntas, de sair de uma posição cômoda e se aventurar a questionar as próprias ações, ideias, as próprias verdades. È fundamental o indivíduo refletir sobre sua prática mais do que vem fazendo, como se observa, neste exemplo, das palestras. É válido que o profissional possa mexer naquilo que ele acha que sabe e trazer algumas incertezas e reflexões. È importante ter dúvidas. Escutei há algum tempo: Quando está tudo muito bem, precisa rever”. Enfim, acredita-se na importância de encontros, palestras sobre dependência química e isto já está caminhando, porém, é necessário que as mesmas possam trazer mais questionamentos do que respostas e que o ser humano possa aprender a lidar com isto.

Família...

Consumo de drogas, familiares e os seus impasses Por Claudia F. Jesus- Psicóloga – clafaje@hotmail.com Diante dos desafios, se questiona: Não há mais o que fazer... Há o cansaço diante de tantas tentativas... Há a sensação de impotência, de culpa, de vergonha e de decepção... Há o medo, a incerteza, a angustia e o medo do futuro... Há a desesperança e a ausência da fé... Há o abandono do outro amado... Há a necessidade do tempo e aceitação do não controle... Há a busca de compreensão e autopercepção... Mais tarde, só mais tarde, há o outro já esquecido ou desconhecido.... Neste mais tarde há a aproximação, o contato, o renascimento do afeto... Há o respeito, a separação e independência mútua... Há o diálogo, a amizade e a alegria compartilhada... Há a aprendizagem com o passado e o desapego com o futuro... Há vida no presente... Há a desconstrução e a construção do não saber por vir... Há o entusiasmo pelo novo e a motivação da surpresa... Há uma nova relação, há um caminho a se abrir... Bem vindo as mudanças no indivíduo e nos familiares.

Quem Sou Eu Sem a Droga

Quem sou eu sem a droga? Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com No que tange o sujeito e a dependência química é comum o indivíduo se misturar com a droga e se definir como um “dependente químico”. Ele pode perder sua identidade e a mesma se transformar na identidade do “drogado”, “do dependente químico”. Também é comum verificar esta leitura até mesmo pelos profissionais e pessoas que trabalham nesta área. È importante que a pessoa tenha consciência de sua relação com a substância psicoativa e buscar intervenções, porém, é malefício ela se resumir numa categoria. A pessoa tenta se achar na dependência química mas pode se perder de si mesmo. Muitas vezes, já está perdida de si e se achando na dependência química acredita que se encontrou. Nem sempre isto é saudável e até que ponto isto se desenvolve, se estagna e é importante refletir. A pessoa, muitas vezes, não sabe mais falar de si sem falar da droga. Isto por um tempo é considerável, porém, se observa o avanço quando o paciente sai de um discurso pronto e acabado e constrói o seu próprio discurso e pode se encontrar com a própria subjetividade. As vezes, isto é alimentado pelos cuidadores e reforça ainda mais o rótulo. È algo de se pensar o uso de um “ diagnóstico”, a infuência deste na vida do paciente e o manejo disto. É fundamental ter o espaço para se refletir sobre o indivíduo sem a droga (álcool) no sentido dele questionar a si mesmo, se perguntar de si. Não é uma tarefa simples pois atuamos no automatismo e somente no discurso da patologia, porém, é necessário ir além. Quem é você sem droga? Quais são suas características? Quais são suas emoções? Como é você na sua singularidade? Quais são suas dificuldades e facilidades? Como é a sua história? Quais são seus interesses? Como você vive a sua vida? Do que você gosta e não gosta? Como é fazer parte de sua família? Quais são os seus medos? Quais são suas escolhas? Como você se vê? O que você deseja? Assim sendo, é considerável possibilitar o indivíduo a entrar em contato com seu eu e com sua subjetividade. O indivíduo não pode se resumir no uso de substância psicoativa pois ele é mais complexo que isto e está para além disto, apesar de muitas vezes não aparentar. É encontrar o sujeito que existe para além das drogas e é necessário trabalhar em prol disto. Este desvelar de si mesmo representa um amadurecimento pessoal e emocional e, também, sabemos que para isto se realizar é importante o indivíduo estar neste momento e se preparando para tal. Sem dúvida deve levar em conta o momento de vida e disponibilidade do indivíduo em saber de si além das drogas. Enfim, este questionamento Quem é você sem a droga? É uma reflexão significativa, complexa e importante no campo das intervenções em álcool ou outras drogas e é necessário refletir se esta indagação é realizada e trabalhada. Esta reflexão se refere a subjetividade que, muitas vezes, é preterida em prol da categoria dependente químico e é fundamental conhecer e compreender a singularidade do sujeito.

Recaída e suas Revelações

Recaída e suas revelações - Por Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com Recaída é um tema que traz um certo terror. È um assunto não tão bem vindo devido as suas consequências, efeitos, porém, é um tema importante no campo da drogadependência. A recaída é algo que pode surgir no processo de intervenção em álcool ou outras drogas, porém nem sempre se é dialogado sobre isto, como se fosse um tabu, como se fosse uma maldição, se tocar muito nisto pode ocorrer ou mesmo, se falar muito nisto pode ser uma justificativa para o sujeito voltar a usar droga. Enfim, observa-se que há um receio em se falar em recaídas mas isto não garante que ela não ocorra. O mais indicado é ter espaços para refletir sobre a recaída e suas vicissitudes, manejos e até a compreensão acerca da recaída. O que se verifica na práxis é que quando se fala em tratamento para dependência química não se pensa na recaída de modo mais direto e não se trabalha significativamente, neste âmbito. Quando ocorre uma recaída o que se observa é o sentimento de decepção, de derrota, fracasso e isto muitas vezes, mal resolvido, mal compreendido traz piores prognósticos. Focamos sempre que a análise de recaída deve ser avaliada caso a caso pois não há um padrão pois se considera a subjetividade. De forma geral, é necessário fazer uma avaliação bem ampla e complexa sobre a recaída. È necessário levar em conta muitos fatores como tempo de abstinência evolução no tratamento, avaliação medicamentosa, fatores de risco e de proteção, rede de apoio, circunstâncias e situações passadas, presentes e futuras, avaliação do manejo com os gatilhos, o diálogo e a comunicação, fatores emocionais e sociais, projeto de vida, a própria representação do paciente acerca de recaída, se houve outras recaídas e como foi trabalhado, automonitoramento, entre tantos outros pontos importantes. Um dos aspectos mais interessantes é questionar não só como o próprio paciente lida com a recaída mas questionar como os próprios profissionais lidam com este tema, bem como, a rede de apoio e familiares. È fundamental ter claro que o modo como se compreende e se trabalha a recaída possibilitará diferentes resultados e diferentes prognósticos. O questionamento que trago se refere a você: Voce sabe lidar com a recaída? Como? Será que é necessário melhorar neste aspecto e evoluir para uma ampliação acerca desta realidade? A recaída é uma realidade observada na prática profissional e se deve trabalhar melhor tecnicamente neste aspecto. A recaída pode nos revelar muito sobre o sujeito que está em tratamento, sobre o seu sofrimento, sobre suas dificuldades e fragilidades, sobre sua evolução, sobre o seu momento de vida, sobre suas aprendizagens e novas possibilidades, sobre a importância de mudanças e estratégias de intervenções. A recaída pode ser comparada a um termômetro, a uma referência sobre a própria pessoa. Enfim, a recaída vem revelar sobre o sujeito e é o sujeito que nos interessa. Isto não quer dizer que as consequências e responsabilidades sobre a recaída não serão vividas. Serão sim e até mesmo como serão trabalhadas é que podem possibilitar diferentes resultados e diferentes caminhos. É necessário olhar para aquilo que pode nos trazer desconforto, decepção, medo, sentimento de fracasso, para aquilo que não se sabe ainda lidar. É necessário olhar para a recaída no sentido dela me possibilitar revelações sobre o indivíduo e as vicissitudes de seu tratamento e é necessário ter este espaço para o próprio paciente. A recaída não é somente a recaída, mas nos traz revelações...

Dependência Química: A Certeza da Repetição

Dependência química: a certeza da repetição Claudia F. Jesus Lidar com o novo é lidar com escolha da liberdade, com as incertezas, com a não garantia, é lidar com o desconhecido, no qual o sujeito deverá encarar e lidar. Neste aspecto há o sujeito protagonista de sua própria vida e que tem escolhas. Toda escolha gera uma angustia pois a cada escolha se perde outra e não se pode ter tudo. O sujeito é um ser faltante e é preciso lidar de forma construtiva com esta realidade. Na situação em que a pessoa está presa a repetição sua liberdade é algo não respeitado e o sujeito está na passividade e na submissão. Segundo Giraurd ( 1989) a dependência não é o resultado, ela é apenas submissão; a submissão da própria repetição, mesmo em um período de algo doloroso, pois já se tem o “destino” e o script, já está pronto. Sair desta repetição é algo que requer responsabilidade do indivíduo e o se lançar para o novo, para o desconhecido o qual não está pronto, está para ser construído. No que tange ao campo das drogas, observa-se que onde havia a incerteza dolorosa na vida do indivíduo há a certeza da repetição. A certeza é algo que o sujeito está preso e teme a incerteza do novo. Assim sendo, na relação do indivíduo com o abuso de drogas há de se considerar a repetição como algo marcante e que precisa ser trabalhado além de respostas simplistas, normatizadoras e universais. È válido considerá-las como um ponto importante a ser discutido e repensado. O sujeito na construção do novo terá que se deparar com a própria finitude, limitações, incertezas, medos, angustias, entre outras e, terá que lidar com a falta. Enfim, trago uma questão considerável que é trabalhar o que se construirá no lugar da falta da falta e o que se construirá na repetição. È algo a ser construído.... O uso de drogas de forma frequente pode se desenvolver para o abuso ou dependência de substâncias psicoativas. Há o paciente que reconhece que está tendo danos devido ao consumo e busca intervenções e há o sujeito que não está neste momento. Neste escrito foca-se o sujeito que tem ciência de sua relação com drogas/ álcool. O uso de drogas se torna algo repetitivo. Se estabelece uma maneira de viver em que a repetição é algo presente. A repetição em buscar o consumo de substância psicoativa, a repetição em fazer o uso, em vivenciar os efeitos, a repetição após o uso e o ciclo da repetição se reinicia. Verifica-se que em muitos casos o sujeito teme sair desta repetição e teme a falta da falta da droga. È interessante refletir sobre esta dinâmica pois é necessário esta compreensão para se trabalhar terapeuticamente. Mesmo com prejuízos do indivíduo na relação com as drogas é o que ele conhece e reconhece em si. Sair desta repetição não é tão simples como parece pois é necessário ultrapassar esta dinâmica repetitiva. Por mais danosa que ela seja é o que o sujeito conhece e se adaptou. A falta da droga é algo que ele reconhece e não sabe ou ainda não pode ir além. Sem a falta o sujeito arrisca a encontrar o novo. O novo é algo que ele desconhece e é algo que traz medos, inseguranças, incertezas e revela o seu próprio desconhecido. O novo é diferente da repetição pois requer a criação, a invenção, que gera angustia e o sujeito “opta” pela repetição, a qual verifica-se a necessidade da repetição e a repetição da necessidade.