sábado, 11 de maio de 2013

Trair....

Dependência de drogas e a representação da traição Claudia Fabiana de Jesus - Psicóloga – clafaje@hotmail.com Podemos pensar a dependência de drogas por diversos viés. Irei apontar refletindo sobre a relação do sujeito com a droga, que em muitos momentos e fases podemos falar de uma relação de paixão. Paixão no sentido de não pensar antes de agir, de ser algo desenfreado, sem medidas e sem consequências, no mesmo campo da cegueira. Paixão, vem do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil, é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio. Embora estejamos falando de algo que pode puxar o indivíduo como um ímã, não se tira a responsabilidade do sujeito que busca a droga , sendo esta é uma escolha, o qual tem suas consequências. A relação da pessoa com a droga acaba sendo uma relação amorosa, que muitas vezes, nada entra no lugar, só existe o indivíduo e a droga. Neste aspecto verifica-se uma relação de prazer, tirando os pontos de prejuízos, onde não se entrega sem pensar. È interessante compararmos com a relação amorosa, pois a sensação é no corpo, o prazer buscado na via corpórea , não há uma mediação, a busca pelo prazer é imediata e auto erótica. Em psicanálise usamos a palavra gozo e, assim o objeto de gozo do indivíduo é a droga. A relação com outro ser humano traz mais impasses, dá mais trabalho porque o outro é ser humano que pensa diferente, tem outros desejos e assim, a relação com o outro é dual, e requer mudanças em si mesmo. Com a droga, seu objeto de preferência, o sujeito tem o prazer em si mesmo. È interessante nos relatos pois a pessoa vai com a droga para um motel ou hotel. Se deixa de se relacionar com uma pessoa, não tem o foco na relação sexual com outro ser humano e tem com a droga. Se deixa de investir nos relacionamentos e se gasta com a droga, se deixa de investir tempo com uma namorada, por exemplo e se investe tempo na droga e ate no tempo de se recuperar da mesma. O investimento vai para a droga e deixa de ser para uma pessoa. Nesta aspecto quando o indivíduo dependente de drogas tem um relacionamento conjugal de há uma traição pois se troca a companhia, se troca tempo, se troca a relação sexual, se troca a pessoa pela droga e se caracteriza por traição porque se mente para ir usá-la, se mente para enganar o outro, enfim, a pessoa se sente enganada, traída. Além deste ponto da relação do indivíduo com a droga e exclusivamente nesta simbiose, podemos pensar na relação do indivíduo com ele mesmo, pois o prazer está em si mesmo a partir do efeito da droga. Excluindo os pontos negativos, a pessoa escolhe gastar o dinheiro consigo mesmo. Ela deixa de assumir os compromissos alheios, com os demais ao seu redor, deixa de investir no relacionamento, deixa de passear, de viver outras sensações e momentos, enfim, ela pensa nela, somente nela. Esta forma de se relacionar consigo mesmo se torna um sentimento egoísta, o qual se preocupa somente consigo mesmo e seu interesse. Assim sendo no campo conjugal, o usuário compulsivo por drogas muitas vezes troca a outra pessoa pela substância psicoativa, caracterizando sentimentos de traição. Neste aspecto o importante é como lidar com isto, quais os limites de cada um e o que cada um manterá ou mudará. Muitas vezes se quer mudar a relação mas não há mais relação com a pessoa e sim com a droga. A questão é o que o que fazer diante deste dilema e quais serão as escolhas a partir disto.

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