sábado, 11 de maio de 2013

Verdades Ditas

Consumo de drogas e verdades ditas Claudia Fabiana de Jesus – clafaje@hotmail.com O consumo de drogas é um tema que mobiliza a sociedade e isto gera construções de saberes e conhecimentos tanto do campo do senso comum, do campo religioso e da área científica. Contudo, de forma geral, verifica-se que há verdades construídas que são absolutistas e são engesadas em si mesma. As verdades colocadas são ditas e reditas impedindo até mesmo novos questionamentos e novas perguntas. Estas verdades podem diminuir as angustias e incertezas de uma área tão complexa e desafiante quanto o uso de abuso de substâncias psicoativas. Esta temática nos traz a mobilização no sentido de estar aberto para novas indagações pois nos viciamos a dar as mesmas respostas e as mesmas ideias sobre o campo das drogas. Até mesmo há um padrão de caminhos a seguir que expressam verdades prontas, como se pudéssemos comprar a cura, como se pudéssemos comprar a solução e como se pudéssemos ter o direito de modelar o ser humano para ele não usar drogas... Ate que ponto, por verdades prontas, invade-se o espaço do outro, a responsabilidade do outro e se dita um saber acerca do outro, desconsiderando a próprio saber do sujeito sobre si mesmo. As verdades prontas ditas por alguém que está no lugar da verdade, do saber, da moral, do certo, do controle, não abre o espaço para a pessoa falar de si, de suas ideias sobre o seu próprio sofrimento ou adoecer, enfim, as verdades ditas impedem que o paciente se coloque. Estas verdades ditas impedem que o sujeito seja indivíduo, ele se assujeita a uma verdade alheia. Em tratamentos para dependência química que a verdade absoluta é o ponto chave não se vê a singularidade do sujeito. Trago a reflexão acerca de nossas praticas pois sem perceber podemos estar atuando com verdades prontas. Quais verdades você tem como escudo e a impede emergir suas angustias, inseguranças, medos e incertezas de um fenômeno complexo que não são as drogas, mas o próprio ser humano. Quando no reportamos as drogas, o álcool as dificuldades nesta área estamos falando do ser humano. Não há verdades prontas sobre o ser humano. Quais verdades você acredita, que ao invés de estar auxiliando o indivíduo no seu processo de tratamento e evolução está o alienando e o engessando e mais, até mesmo, escravizando-o em verdades prontas. Verifica-se que a sociedade está perdida neste âmbito e até pode preferir ter respostas prontas, caminhos padronizados do que aceitar que ainda há muito o que construir nesta área, há muito o que se questionar e modificar as próprias ideias pré-concebidas sobre o tema. Não irei trazer estas verdades prontas pois não quero reproduzi-las aqui, mas é um convite para tal questionamento: Será que realmente esta verdade serve para aquela pessoa ou é mais uma verdade que você acredita e quer que o outro acredite também?! Não estou dizendo que as pessoas não podem utilizar algumas coisas parecidas, do outro, aprender com o outro, considerar o que os profissionais falam, mas precisamos auxiliar o indivíduo a ser a referencia de sua própria vida, a ser a referencia de seu processo de mudança e não criar dependência de uma verdade absoluta. O ser humano é um ser em movimento, em mudança, algo inerente a vida humana, mudanças estas internas e externas. Há verdades aprendidas que impedem o indivíduo de se desenvolver, porém, alguns pagam este preço em nome de certezas. Outros preferem construir as suas mudanças, abertos a novas perguntas e questionamentos, continuando aprendendo, criando e reiventando.

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