sábado, 18 de janeiro de 2014

Ações em Dependência Química: De Braços Abertos

Intervenções em Dependência Química: Bem vindo De Braços Abertos.... Por Claudia Fabiana de Jesus - clafaje@hotmail.com Há em torno de dez anos se vê tentativas de projetos na cracolândia e de quatro anos para cá isto se deu de forma mais intensa, mas de forma geral, foram intervenções higienistas, autoritárias, com foco em internações, com ações que vão na contra mão da reforma psiquiátrica, enfim, ações repressoras e retrógradas. Dia 16 de janeiro de 2014 a prefeitura de São Paulo institui o programa “Braços Abertos” cujo foco é o resgate da cidadania, direitos do sujeito e respeito a autonomia e a escolha do mesmo. O programa foca no trabalho, alimentação, moradia e tratamento. No que se refere ao tratamento ressalta-se intervenções no modelo do CAPSad. Abandonar a droga não é o ponto de partida do programa e, sim, o ponto de chegada. Tirar as pessoas da rua, recuperar a dignidade e a cidadania, para que elas tenham uma ”chance de se recuperar”, é o que prega o secretário de Saúde do município, José Filippi Jr. O programa, “de baixa exigibilidade”, não condiciona a inscrição ao abandono da droga, até porque o usuário só larga por vontade própria, e é preciso ter muita vontade. Estas ações foram muito diferente do massacre que ocorreu em janeiro de 2012, com mais de 300 policias, bombas e balas de borracha. O programa busca ajudar quem deseja e não soltar a polícia em cima. Estas ações são diferentes, pois ate o nome do programa “ Braços Aberto” foi escolhido pelos usuários em Assembléia. Escutei uma frase: não irão conseguir acabar com a cracolândia assim... As críticas em relação a este programa irão surgir sim e, realmente, não serão todos que desejaram passar por mudanças, mas logo me veio a questão: não é acabar com a cracolândia ( se quer acabar pois ela perturba as pessoas e incomoda) mas sim, ajudar as pessoas com intervenções que levem em conta além da abstinência, a redução de danos. O foco é a pessoa e não o local ( que na verdade nos mostra uma realidade). Lembrando a pesquisa sobre crack recentemente concluída pela FIOCRUZ, recentemente publicada, mostrou que 80% dos usuários pesquisados nas zonas de uso são negros ou pardos, que 80% não chegaram ao ensino médio, que 50% estiveram presos e que em média usam há mais de oito anos. O crack não mata imediatamente, como querem fazer crer. É um produto inerte que não se propaga por si mesmo como uma peste epidêmica, mas um organizador de vidas violentadas, não preparadas para viver em sociedade e que são alcançadas pelo mercado (negro) que organiza suas vidas. As pessoas que conduzem o processo sabem que não será obrigando nem dando sermão que gerarão nesses usuários uma vontade de mudança. Há a baixa exigência do serviço mas, ao mesmo tempo, há de se lidar com a complexidade. As pessoas que operam na região esperarão conflitos, recaídas, novas demandas e irão se surpreender com a potencialidade de muitos deles. Assim sendo, é estar auxiliando as pessoas que desejam mudanças, em diversas áreas da vida, com foco no respeito a individualidade e todos estando aberto a realidade que se apresentará.

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